domingo, 15 de março de 2015

Reflexão de meu grande amigo João Pedro Stédile: " pacto de composição de classe se rompeu"


João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apresentou a análise de conjuntura que os movimentos sociais estão fazendo do atual momento político do país. Para ele, o pacto social inter-classes que permitiu a eleição de Lula e a implementação de um modelo neo-desenvolvimentista, nos últimos dois anos bateu no teto e não funciona mais. “Esse pacto de composição de classe se rompeu porque a estrutura da sociedade mudou e trouxe novos elementos. Há dois anos que a economia não cresce. As empresas multinacionais enviaram 90 bilhões de dólares para o exterior. E a perspectiva é ficar mais dois anos sem crescer, chegando a uma situação de recessão”, avaliou Stédile.
Do ponto de vista político, a situação é ainda pior, acrescentou o líder sem-terra. “Temos uma Câmara onde dez empresas elegeram cerca de 70% dos deputados. As reais bancadas hoje são a bancada ruralista, a bancada evangélica, a bancada da bala, a bancada do Itaú e assim por diante. A burguesia está nadando de braçada. Controla o Congresso, o Judiciário e os meios de comunicação. A tática deles é ir sangrando o governo e colher os frutos em 2016 e 2018. E do lado da classe trabalhadora, nós estamos vivendo um longo período de descenso do movimento de massa”. Diante deste cenário, Stédile apontou cinco desafios que o PT, na sua opinião, deve enfrentar:
– Retomar a formação política da militância. “Qual é o último curso de marxismo que o PT deu? – provocou. “As escolas do MST estão cheias de livros de Marx que ganhamos de petistas”.
– Organizar a juventude.
– Construir meios de comunicação.
– Criar frentes de massa que queiram fazer lutas. “Dia 13 foi um belo ensaio disso”, observou.
– Recompor uma frente de esquerda no Brasil. “O PT sozinho não vai dar conta da atual conjuntura. A dificuldade é que uma frente de esquerda implica mudar a estratégia. Se juntar para ganhar a eleição não resolve mais”.
Na mesma direção, Renato Simões, deputado federal e dirigente nacional do PT, sustentou que as características que embalaram o chamado “lulismo”, um fenômeno policlassista e suprapartidário, não funcionam mais. “Nós não fizemos reformas estruturais fundamentais como a Reforma Política e, sem ela, a lógica que nos trouxe até aqui não é mais sustentável. Não fizemos a Reforma Política e estamos colhendo os resultados. Tivemos uma queda de 50% da bancada sindical e um aumento das bancadas evangélica e da bala. O PT deixou de fazer luta política para se tornar um gerenciador de crises do governo. Agora, os mais pobres e os mais ricos estão nas ruas. Vamos ter que escolher que lado o cobertor vai cobrir”, defendeu Simões.

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