quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

SOBRE YOANI, SOFISMAS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Por Diogo Costa


SOBRE YOANI, SOFISMAS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO (crítica ao texto "Não são os EUA que financiam Yoani; é Cuba e a esquerda arcaica")

1- Os meninos que fizeram protestos contra Yoani eram militantes da UJS, ligada ao PC do B. Yoani não é e nunca foi "a principal voz de oposição" em Cuba, é apenas a mais conhecida fora daquele país e é sim financiada por organizações internacionais que pretendem mudar o regime estabelecido na ilha caribenha.

2- Com todo o respeito, mas isso é um sofisma... Yoani Sánchez não estava impedida de sair de Cuba por ser uma blogueira que criticava o governo de Raul Castro! A lei cubana (da qual podemos concordar ou discordar) não permitia que nenhum cidadão cubano deixasse o país sem autorização prévia das autoridades governamentais. A partir de 14 de janeiro de 2013, com a reforma na lei migratória, os cidadãos cubanos estão autorizados a viajar para qualquer lugar do mundo sem autorização prévia das autoridades. Logo, Yoani sofria as mesmas restrições de todos os cidadãos cubanos antes de janeiro de 2013, e, agora, tem toda a liberdade de viajar facultada aos cidadãos cubanos a partir da reforma já citada.

3- Existem centenas, milhares de blogueiros em Cuba. Yoani é sim apenas mais uma. E existe também a liberdade de crítica (principalmente a partir do governo de Raul Castro). O que os cubanos contestam é o fato de Yoani ser financiada por entidades internacionais para desestabilizar as instituições cubanas. Não há nada que os cubanos prezem mais do que a independência e a soberania de seu país e é justamente por isso que identificam Yoani como uma mercenária que não pretende criticar o governo, mas destruí-lo a serviço de potências estrangeiras. É a mesma situação que ocorreu no Brasil com o IBAD na década de 60. Em 1962, o IBAD financiou as campanhas de centenas de opositores do governo João Goulart, com dinheiro de empresas estrangeiras, notadamente dos EUA. Isso foi alvo de uma CPI em 1963 e, por ordem judicial e em consequência dos desdobramentos da CPI, o IBAD foi fechado definitivamente em dezembro do mesmo ano.

4- De novo, o sofisma! É uma rotunda mentira dizer que Yoani não podia sair de Cuba porque ela, Yoani, era uma blogueira crítica ao governo. Isto não é verdade! A lei cubana exigia para TODOS os cidadãos uma autorização prévia para viajar. Houve uma reforma migratória, aprovada por Raul Castro, e que entrou em vigor em 14 de janeiro de 2013. Hoje, os cidadãos de Cuba que quiserem podem viajar à vontade, sem pedir nenhum tipo de autorização governamental. A "solidariedade" é apenas para Yoani, porque convém aos seus financiadores internacionais? O fato é que Yoani não saia antes de Cuba porque a lei dizia que as autoridades podiam permitir ou não a sua saída (podemos concordar ou discordar...), e, hoje, ela pode viajar pelo mundo porque a lei cubana permite que os cidadãos daquele país viajem sem nenhuma restrição! Porque acham que ela veio ao Brasil? Quantos cidadãos brasileiros possuem recursos para fazer um "tour" pelo mundo, como Yoani está fazendo agora? Porque criticam Cuba ao invés de aplaudir a reforma migratória de Raul Castro?

5- E onde está o problema das pessoas se manifestarem contra Yoani Sánchez, contra o Papa Bento XVI, contra Lula, FHC, Reinaldo Azevedo, Obama, Jair Bolsonaro ou Roberto Freire? As manifestações a favor ou contra uma pessoa ou uma causa são perfeitamente normais e legítimas! O próprio texto de Cynara relata que Yoani se manifestou, se pronunciou, respondeu aos questionamentos que lhe foram feitos, etc... Ou seja, NÃO HOUVE nenhum tipo de censura contra a blogueira, muito antes pelo contrário! Sobre quem se saiu bem desse episódio, isto é uma avaliação política que todos tem o direito de fazer. O que não é possível é dizer que Yoani não pode se manifestar, porque isso não corresponde à realidade.

6- Protesto desrespeitoso e intolerante? Enfim, é uma avaliação pessoal. Eu vejo todo e qualquer protesto como legítimo. Estamos a falar da forma e não do conteúdo dos protestos! Isso não ajuda em nada no debate sobre esta questão. Repito, onde está o problema de pessoas se manifestarem contra quem quer que seja? Se ultrapassarem os limites legais, responderão pelos seus atos, isso no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.

7- Acredito que a UJS deu uma dimensão exagerada à Yoani Sánchez. Ela não tem 1/50.000 avos dessa importância que lhe atribuíram, por exemplo, em Cuba. Os generosos espaços que a blogueira tem na imprensa cartelizada do Brasil, os teria de qualquer jeito, com ou sem protestos. Aos que se dizem de esquerda, cabe fazer a crítica da crítica, demonstrando que a 'esquerda' não é esse bloco único que a "grande mídia" tenta vender aos incautos. Aliás, desafio a qualquer cidadão do Brasil que mostre um único documento do PT (maior partido de esquerda do país) onde este partido defenda um regime de partido único ou um regime onde não haja pluralidade de informações e pleno respeito à liberdade de expressão! Podem procurar a vontade e não encontrarão nenhum documento neste sentido, desde 10 de fevereiro de 1980, justamente porque o PT surgiu da crítica às experiências do 'socialismo real'.

8- Yoani ataca Cuba porque tem críticas ao regime, o que é perfeitamente normal. O que não é normal é pensar que ela não é financiada por entidades internacionais, algo que é de conhecimento até do mundo mineral. Por fim, lamento que se façam críticas única e exclusivamente ao regime cubano, sem fazer as devidas críticas ao criminoso bloqueio econômico do qual o país é alvo há mais de 50 anos. E lamento que se façam críticas ao regime cubano sem falar uma vírgula sequer da masmorra de Guantánamo, usurpação territorial imposta pelos EUA desde antes da Revolução de 1959. Criticar Cuba é fácil, difícil é fazer a crítica dos Direitos Humanos que europeus e norte-americanos aplicam em outros países, difícil é fazer a crítica contra o Golias que oprime uma nação inteira e mirar apenas no Davi que resiste e busca, dia a dia, garantir o básico direito de manter sua soberania e auto-determinação.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pedágios - Nota Governo do Estado.

O Governo do Estado saúda a decisão da 21ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado, anunciada na tarde desta quarta-feira (27), que mantem a decisão em 1º grau da Justiça Estadual negando a prorrogação do contrato firmado com a Brita Rodovias S.A., concessionária da praça de pedágio do município de Gramado. 
Com relação à decisão da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que suspendeu a liminar que garantia ao Executivo o encerramento do contrato com a concessionária do pedágio de Carazinho, a Coviplan, o Governo do Estado informa que irá entrar com recurso junto ao Superior Tribunal de Justiça. De acordo com a decisão do TRF4, a empresa terá o direito de explorar a praça de pedágio do município até o dia 28 de dezembro. 
O Governo do Estado acredita na reversão da decisão e mantém confirmadas as atividades programadas para o dia 06 de março, junto à praça de pedágio de Carazinho, quando serão abertas as cancelas do polo daquele município. 


Governo do Estado

Transporte Escolar - Santiago.

Transporte Escolar 

Depois de esgotadas todas as possibilidades de fechar o convênio com a Prefeitura de Santiago para transporte dos alunos da zona rural, o Governo do Estado, através da 35ª CRE, assumiu a responsabilidade de contratação emergencial do transporte escolar para as escolas estaduais de Santiago. 
A contratação emergencial das 18 linhas estão sendo encaminhadas com a participação de 5 empresas para realizar todos os percursos traçados na prestação de serviços. 
É de conhecimento que no Estado temos dois municípios que não assinaram a parceria ( convênio) que são os municípios de Santiago e Santo Antonio das Missões, por isso, é questionável esta postura. 
É importante destacar neste contexto, que a questão polêmica envolvendo o transporte dos alunos da Escola Estadual Primo Pozzatto, está sendo resolvida com a contratação de uma linha contemplando o acesso e retorno dos alunos para a escola e os demais alunos da comunidade serão transportados para a Escola Estadual Vila Branca e Santiago. 
Queremos, na verdade ressaltar a decisão da SEDUC (Secretaria da Educação) e o trabalho da 35ª CRE, que não mediram esforços para viabilizar o transporte escolar, o mais rápido possível, dos alunos das escolas rurais e a garantia do ano letivo. 
Extensão 35ª CRE -Santiago

Transporte Escolar em Santiago - Pela transparência.


35ª CRE confirma transporte da zona rural de Santiago

Em encontro com a Secretária Municipal de Educação Denise Flório na manhã desta sexta-feira, 15 de fevereiro, na Prefeitura Municipal de Santiago, a Coordenadora Regional de Educação, Angela Regina Pires Costa comunicou à comunidade , que a Secretaria Estadual do Rio Grande do Sul ( SEDUC-RS) fará o transporte escolar dos estudantes durante o ano letivo de 2013, serviço que nos anos anteriores era prestado pelo Executivo Municipal.

Ao manifestar-se sobre o tema, Angela Costa afirmou que todas as medidas administrativas foram tomadas para que no dia 27 de fevereiro, início do Ano Letivo na rede estadual os estudantes da zona rural possam estar nas escolas onde encontram-se matriculados. “Na maioria dos municípios gaúchos, as prefeituras realizam o transporte dos estudantes da área rural, no entanto como a prefeitura de Santiago considerou inviável a continuidade do serviço, a SEDUC-RS garantirá que os alunos da zona rural possam estudar”, destacou.

Após a reunião, a equipe da 35ª CRE e da Secretaria Municipal de Educação, em conjunto com onze diretores fizeram o trajeto onde os motoristas buscarão os estudantes. Aproximadamente 500 crianças e jovens utilizarão o transporte , que será contratado em forma de contrato emergencial. Dos alunos que frequentam o Ensino Médio, 50 % necessitam de transporte, bem como a lomoção para o turno inverso, que também será realizada.

Fim da exploração dos pedágios.


Tragedia de Santa Maria - 1 mês.


Neste 27 de fevereiro ,exatamente um mês após a maior tragédia já ocorrida em Santa Maria ,resolvi me manifestar. Ainda não havia feito nem uma manifestação, esperando passar minimamente aquele momento de tanta dor e choque que tomou conta de todos nós ,e de forma mais lúcida pudesse aqui me pronunciar sobre este triste fato .Perdi muitos amigos ,filhos de amigos e até um grande colega de futebol dos sábados ,o querido Carlos Alexandre Machado o XANDI como era chamado por todos nós seus amigos ,com a graça de Deus, não perdi nem um familiar nesta tragédia ,mais a dor também é enorme por ter presenciado, tanto la na Boate Kiss como no CDM o grande sofrimento de mães,pais ,irmãos ,familiares ,amigos e colegas das vítimas , e é por isso que venho aqui pedir que em respeito a tudo isso, possamos nos despir de qualquer tipo de interesse ou paixão política partidária e exigir que todas as pessoas que tiveram qualquer relação de culpa, seja pela ação ou omissão sejam severamente punidas .Não importando se for alguém influente em algum partido político ,figura importante na sociedade, seja o empresário que for ,autoridade que for ,funcionário que for, em qualquer esfera , seja municipal ,estadual ou federal,não pode se criar nem um tipo de proteção ,blindagem ou barreiras para que sejam responsabilizados o mais breve possível, seja quem for ,doa a quem doer ,para que Santa Maria não fique maculada perante o mundo como uma cidade que não respeita a dor de seu povo em favor de interesses políticos e pessoais de alguns que se acham intocáveis .Finalizo afirmando que confio plenamente nos órgãos e autoridades que estão conduzindo as investigações e que a justiça será feita .

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Presidente Dilma.


Nesta semana que passou, a presidente Dilma anunciou a ampliação do Programa Brasil Sem Miséria, elevando de R$ 22 para R$ 70 o valor mínimo recebido por famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Esse incremento custará aproximadamente R$ 770 milhões este ano, alçando o orçamento geral do Bolsa Família em 2013 para R$ 24 bilhões – o que o consolida como um dos principais aportes financeiros do Estado brasileiro, juntamente com Saúde e Educação.
Por Flávio Dino
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=206730&id_secao=1

















Nesta semana que passou, a presidente Dilma anunciou a ampliação do Programa Brasil Sem Miséria, elevando de R$ 22 para R$ 70 o valor mínimo recebido por famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Esse incremento custará aproximadamente R$ 770 milhões este ano, alçando o orçamento geral do Bolsa Família em 2013 para R$ 24 bilhões – o que o consolida como um dos principais aportes financeiros do Estado brasileiro, juntamente com Saúde e Educação.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PSDB decide assinar requerimento e a CPI da Kiss será instalada na Câmara de Vereadores



EXTRA, EXTRA. PSDB decide assinar requerimento e a CPI da Kiss será instalada na Câmara de Vereadores

POR CLAUDEMIR PEREIRA EM 25/02/2013 17:02 | 1 COMENTÁRIO | COMENTE!

Sem mais delongas (que depois haverá tempo para análise, se for o caso) acompanhe o material que acabo de receber da direção municipal do PSDB de Santa Maria. Antecipando apenas que, com as cinco assinaturas já tidas, de PPL e PT, fica garantida a criação da CPI da Kiss, no Legislativo da boca do monte. Confira:

“PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA DE SANTA MARIA
NOTA OFICIAL

Na data de hoje, durante reunião da bancada de vereadores do PSDB com a Executiva Municipal, foi deliberado que o Partido irá fazer parte da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, para apurar eventuais irregularidades do Poder Público que possam ter contribuído com a tragédia ocorrida na Boate Kiss.

Importante destacar que, em momento algum, o PSDB de Santa Maria foi contra a criação de uma CPI, pois entendemos necessária a conclusão total do Inquérito Policial, para que esta Comissão atenda seu preceito legal que é investigar fato determinado.

Em hipótese alguma o PSDB permitirá que esta Comissão seja utilizada para fins políticos em respeito absoluto aos pais, amigos e familiares das 239 vítimas que perderam a vida prematuramente.

Sendo assim, o Partido definiu que a Bancada do PSDB, composta pelos Vereadores, Coronel Vargas e Admar Pozzobom, assinará o requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – na Câmara de Vereadores de Santa Maria .”

O incêndio da boate Kiss na madrugada de 27/01/2013 e o papel desenvolvido pela 4ª CRS


               Na madrugada do dia 27/01/2013 por volta das 02h30min aconteceu um incêndio na boate Kiss, uma casa noturna, no Município de Santa Maria – RS. Dados da Defesa Civil somaram um total de 235 óbitos imediatos. Posteriormente mais 04 óbitos aconteceram.
          O atendimento às vítimas teve início por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que após prestar os primeiros atendimentos, levou pacientes vivos até o pronto socorro do Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo e pronto socorro do Hospital Universitário de Santa Maria (importante salientar que o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo não é referência SUS para atendimento de urgência e emergência. Entretanto pela proximidade do local do incêndio e pela dimensão do acontecimento, os pacientes foram levados pelo SAMU para o local). Além do SAMU, trabalharam na condução das vítimas aos serviços de saúde, trabalhadores do Corpo de Bombeiros e dos pontos de táxi próximo à casa noturna. Relatos comoventes permeiam a descrição dos momentos que sucederam o incêndio, culminando no transporte de 235 corpos ao Centro Desportivo Municipal para serem reconhecidos pelos familiares.
            A rede de saúde do município de Santa Maria rapidamente iniciou o atendimento aos pacientes vítimas da tragédia. Além dos pronto socorros do Hospital de Caridade e do Hospital Universitário, outros serviços receberam e atenderam pacientes (hospital da Brigada, hospital da Guarnição Militar, hospital São Francisco, Unidade de Pronto Atendimento e Pronto Atendimento do Patronato da rede municipal de saúde). Também temos relatos de atendimentos ambulatoriais nos serviços da Unimed e Cauzzo (algumas pessoas se deslocaram aos serviços com menos fluxo de pessoas para atendimento).
            A 4ª CRS, por meio de suas coordenadoras (titular e adjunta) iniciou suas atividades por volta das 07h da manhã de domingo (momento da informação do acontecimento). Enquanto a coordenadora titular se deslocou para o Hospital Universitário, a coordenadora adjunta foi para o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo e posteriormente em todos os serviços hospitalares do município. Além do trabalho junto aos hospitais a coordenadoria articulou a abertura do Hemocentro Regional de Santa Maria e, juntamente com as equipes do SAMU e dos hospitais organizou um fluxo de regulação em urgência. Posteriormente, ainda no turno da manhã, outros setores da SES/RS (Gabinete do Secretário, SAMU estadual, Departamento Ações em Saúde, Atenção à Saúde Mental, Departamento de Coordenação das Regionais) chegaram ao município e foram se somando aos trabalhadores da rede de saúde do território de Santa Maria. Além disso, alguns setores da SES/RS, especialmente o DAHA, rapidamente organizou um fundamental trabalho de retaguarda para atendimento.
       Os casos de maior gravidade, especialmente de queimados foram removidos para hospitais de maior complexidade, especialmente ao município de Porto Alegre/RS, após triagem rigorosa e avaliação por equipe especializada. Também receberam pacientes os hospitais de Cachoeira do Sul, Ijuí, Canoas e Caxias do Sul.
       A Base Aérea de Santa Maria chegou a montar 7 leitos de UTI em uma aeronave (situação relatada como inédita posteriormente), garantindo agilidade no deslocamento dos pacientes que precisavam ser removidos. A rede hospitalar da região metropolitana disponibilizou rapidamente retaguarda necessária.
          Além disso, no domingo, a partir do turno da tarde, muitos profissionais de saúde (dos serviços de atendimento, dos centros de ensino, de outros municípios vizinhos, dos conselhos profissionais) juntaram-se no Centro Desportivo Municipal para juntos com equipes da Polícia e Defesa Civil, realizarem o triste trabalho de reconhecimento dos corpos pelos familiares. Neste local também estavam muitos serviços funerários para dar continuidade ao processo. No domingo inúmeras igrejas, salões paroquiais e outras instituições disponibilizaram suas instalações para que fossem realizados os velórios das vítimas, sendo que muitas delas foram veladas coletivamente no próprio local de reconhecimento dos corpos.
        Ainda no domingo foi articulado e posto em funcionamento o atendimento em saúde mental para os envolvidos no acontecimento. Foi montado um serviço, composto pelas três esferas de gestão do SUS, para acompanhar todo o desenvolvimento das ações em saúde mental, desde o recebimento de voluntários até o atendimento volante (em domicílio) quando necessário durante 24 horas. Neste sentido, o serviço de saúde mental foi o primeiro a estabelecer protocolo para atendimento e também para recebimento dos profissionais voluntários na área.
          No que diz respeito à saúde, entre o domingo, dia 27/01 e a segunda-feira, dia 28/01/13 Santa Maria contava com a presença de inúmeros profissionais de saúde que chegaram de diversos locais do Brasil para somarem-se ao trabalho. No domingo à noite foi realizada a primeira reunião como secretário estadual de saúde, Ciro Simoni, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, técnicos da Secretaria de Atenção à Saúde e Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro da Saúde, integrantes da Força Nacional do SUS, coordenação estadual do Serviço Móvel de Urgência, coordenação da 4ª CRS, coordenação das 19 regionais e coordenação da Atenção Básica e Saúde Mental da SES/RS, Grupo Hospitalar Conceição, Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria e integrantes das equipes clínicas hospitalares do território do município. 
         No que diz respeito à saúde, entre o domingo, dia 27/01 e a segunda-feira, dia 28/01/13 Santa Maria contava com a presença de inúmeros profissionais de saúde que chegaram de diversos locais do Brasil para somarem-se ao trabalho. No domingo à noite foi realizada a primeira reunião como secretário estadual de saúde, Ciro Simoni, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, técnicos da Secretaria de Atenção à Saúde e Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro da Saúde, integrantes da Força Nacional do SUS, coordenação estadual do Serviço Móvel de Urgência, coordenação da 4ª CRS, coordenação das 19 regionais e coordenação da Atenção Básica e Saúde Mental da SES/RS, Grupo Hospitalar Conceição, Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria e integrantes das equipes clínicas hospitalares do território do município.
       Nesta ocasião foi instalada a Sala de Crise no Hospital da Caridade composta por: SMS de Santa Maria, SES de Rio Grande do Sul por meio da 4ª CRS e Saúde Mental, Defesa Civil Estadual e Municipal, Grupo Hospitalar Conceição, Ministério da Saúde (Força Nacional-SUS), Coordenação de Média e Alta Complexidade; Forças Armadas, SES Paraná; gestão hospitalar local.

A SALA DE CRISE NA PERSPECTIVA DA 4ªCRS
      Nesta sala de crise, além da equipe da força nacional do SUS, no primeiro momento estava o ministro da saúde e o secretário estadual da saúde. A CRS participou desde o início com a presença da coordenadora e coordenadora adjunta e à medida que as necessidades de apoio logístico e estratégico foram se acentuando, outros funcionários tiveram que ser agregados: motoristas, farmacêuticos, técnico de informática, coordenação administrativa....
A nossa função além do apoio logístico às equipes foi a de promover e participar de reuniões com todas as instituições envolvidas, com os familiares e realizar a articulação entre estes. 
Desde o início do evento, vários coordenadores regionais se mobilizaram no sentido de verificar necessidades de medicamentos, equipamentos e materiais para as vítimas e familiares. Efetivamente recebemos empréstimos de muitas cidades como respiradores, oxímetros, medicamentos e insumos.
      A nossa função além do apoio logístico às equipes foi a de promover e participar de reuniões com todas as instituições envolvidas, com os familiares e realizar a articulação entre estes.
       Após uma semana de instalação no Hospital de Caridade, a sala de crise foi transferida para a sede da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde.
Apesar de ser um final de semana tivemos vários servidores voluntários para trabalhar dando condições ao pessoal da Força Nacional do SUS de exercer suas atividades com segurança e apoio logístico.
      Durante os dias que sucederam a tragédia inúmeras AÇÕES INTEGRADAS foram realizadas. Composta por (Força Nacional-SUS, Grupo Hospitalar Conceição, Secretaria de Atenção à Saúde e Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde do RS (por meio da 4ª CRS e serviço Saúde Mental) e Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria, Defesa Civil- Ministério da Integração Nacional, FAB- Ministério da Defesa).
Algumas atividades desenvolvidas
Salientamos que muitas delas foram realizadas pela 4ª CRS em conjunto com a FN-SUS:
 Rastreamento dos pacientes vítimas do evento nas unidades de atendimento;
 Levantamento das ações a serem desenvolvidas junto às equipes dos hospitais verificando a necessidade de insumos e equipamentos;

 Levantamento de necessidades junto aos Hospitais (equipamentos, medicamentos, profissionais para ajudar no atendimento);
 Verificação de necessidade de psicólogos para atuação junto aos familiares e profissionais assistenciais;
 Entrega de equipamentos e medicamentos para serviços hospitalares;
 Mapeamento dos equipamentos que vieram de diversas proveniências brasileiras para as ações;
 Estabelecido fluxo farmacêutico, sendo combinado para apresentação de relatório a cada 48 horas do estoque e previsão para as próximas 48 horas de medicamentos e insumos;
 A 4ª CRS, por meio da coordenadora titular e adjunta, participou de todas as reuniões que foram realizadas para avaliação do cenário e redefinição de diretrizes;
 Organização de fluxos para atuação na assistência direta dos pacientes;
 Monitoramento e levantamento da demanda de leitos junto à central de regulação do Estado.
 Reunião com as equipes da saúde mental para discutir e pactuar o funcionamento dos grupos de apoio às famílias, profissionais e pacientes dos municípios afetados;
 Mapeamento dos municípios que tiveram vítimas em decorrência do incêndio;
 Gerenciamento de medicamento importado para ser disponibilizado quando necessário;
 Disponibilização de veículos e motoristas para suprir as necessidades;
 Disponibilização de área física da coordenadoria para instalação do gabinete de crise (com trabalho inclusive nos finais de semana);
A 4ª CRS continua com presença constante no cenário da saúde pública que envolve o acontecimento e agradece o apoio que tem recebido. 
       Nos últimos dias somou-se ao grupo de trabalho integrantes do Departamento de Atenção Básica em Saúde do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde do RS para oferecer ao município de Santa Maria incentivos financeiros imediatos, por meio de políticas já instituídas como Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), Estratégia de Saúde da Família (ESF), Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB) e Atenção Domiciliar.
        Para encerrar, salientamos que novas frentes de trabalho vem sendo abertas: elaboração de protocolos para atuação (protocolos clínicos hospitalares, protocolos de atenção básica em saúde, protocolos de vigilância epidemiológica), definição de estratégias para atuação longitudinal junto às redes de saúde envolvidas. Estas frentes ampliam-se em composição, alcance e complexidade, o que exige trabalho em equipe, co-responsabilização dos envolvidos, solidariedade entre as instâncias e um processo qualificado de troca de informações.

A 4ª CRS continua com presença constante no cenário da saúde pública que envolve o acontecimento e agradece o apoio que tem recebido.
Santa Maria, 18 de fevereiro de 2013.
Flávia Costa da Silva Ilse Meincke Melo

 * Coordenadora Regional de Saúde: Ilse Meincke Melo – Enfermeira, Especialista em Saúde Coletiva, apoiadora da Política Nacional de Humanização no SUS;
Coordenadora Regional Adjunta de Saúde: Flávia Costa da Silva – Socióloga, Especialista em Saúde Pública, Mestre em Educação


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Esselentíssimo Sr. Juiz ... Esta escrito errado?

Esselentíssimo Sr. Juiz ...

Ao transitar pelos corredores do forum, o advogado
(e professor) foi chamado por um dos juízes: 
- Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição,
Estampado logo na primeira linha do petitório lia-se: "Esselentíssimo Juiz". 
Gargalhando, o magistrado lhe perguntou :
- Por acaso esse advogado foi seu aluno na Faculdade? 
- Foi, sim - reconheceu o mestre.
- Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere ?
O juiz pareceu surpreso:
- Ora, meu caro, acaso voce não sabe como se escreve
a palavra excelentíssimo ?
Então explicou o catedrático :
- Acredito que a expressão possa significar duas coisas
diferentes. Se o colega desejava se referir à excelência
de seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão à morosidade da prestação
jurisdicional, o equívoco reside apenas na junção
inapropriada de duas palavras.
O certo então seria dizer :
Esse lentíssimo Juiz.
Depois disso, aquele magistrado nunca mais aceitou
o tratamento de "Excelentíssimo Juiz", sem antes perguntar: 
- Devo receber a expressão como extremo de excelência
ou como superlativo de lento?




Para compreender o papa renunciante



Por Walter Falceta Jr. em 19/02/2013 na edição 734


Aparentemente, a renúncia de Bento XVI não causou grande comoção no Brasil. Nossa gente parecia mais interessada nas folias de Momo ou nos outros entretenimentos que a trégua carnavalesca oferece. Aqui e ali, nas esquinas cibernéticas, até mesmo os jornalões preferiram as sinuosas rainhas de bateria ao velho pontífice.

Convém salientar que nem sempre foi esse o rito da cobertura. Em outros tempos, o assunto teria merecido maior destaque. Afinal, nenhum vivo havia testemunhado, até então, uma renúncia papal.

Esse comportamento pode ser explicado também pela quase extinção da cobertura regular de assuntos religiosos nas grandes redações. Durante décadas, os principais veículos contavam com setoristas para a área, profissionais que se mantinham atentos, de modo especial, às manifestações da Igreja Católica Apostólica Romana.

Hoje, assuntos de fé são tratados em páginas de polícia, comportamento ou de política, por jornalistas nem sempre capacitados para reconhecer as peculiaridades do tema.

Até o princípio da década de 1990, os principais veículos de comunicação brasileiros cuidavam de noticiar em detalhes, por exemplo, as deliberações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa atenção especial devia-se a dois fatores: o real interesse do público católico e a importância da voz da Igreja no período da ditadura militar, quando outras entidades se viram silenciadas pelo regime.

Como resultado do processo de redemocratização, os bispos deixaram de figurar como porta-vozes confiáveis dos censurados, dos desaparecidos e dos mortos na luta política. Ao mesmo tempo, sem alarde, a cúpula romana tratou de afastar seus líderes nacionais e regionais desse tipo de militância.

Essa Igreja que deixou as ruas e retornou às paróquias foi instruída por homens austeros, recatados e silenciosos como o cardeal Ratzinger, eleito papa após a morte de João Paulo II.

Parte do “branco” da imprensa após a renúncia do pontífice alemão tem relação direta com a extensão e altura dos muros erguidos recentemente pelo Vaticano no campo das interações com a mídia.

Neste momento marcado pela incerteza e pelo recurso ao lugar-comum nas interpretações jornalísticas, convém uma curta viagem histórica pela história da Igreja nos últimos cinquenta anos, período no qual o sacerdote Ratzinger apresentou-se como protagonista.

Guinada à direita

No início da década de 1960, a Igreja foi subitamente oxigenada por meio da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), uma conferência consultiva e deliberativa que mudou a face da instituição, abrindo-a mais ao mundo e capacitando-a a exercer, na prática, a missão libertadora inspirada pelo carpinteiro de Nazaré.

A aventura conciliar foi obra de Ângelo Roncalli, papa João XXIII, que liderou a Igreja por cinco anos, até sua morte, em 1963. O sacerdote italiano, ainda que discreto, era um humanista, simpatizante das causas sociais.

Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, enquanto a Igreja se calava diante das brutalidades nazistas, Roncalli salvava muitos judeus, concedendo-lhes secretamente passes de sua delegação apostólica e certificados de batismo.

O concílio mudou a liturgia católica, tornando-a mais acessível ao homem comum. Além disso, aprofundou a colegialidade episcopal, valorizou os leigos, desenvolveu o ecumenismo e redefiniu a ação pastoral, colocando-a também a serviço da justiça social.

Por isso, até hoje, João XXIII é lembrado mundo afora como o “Papa Bom”, enquanto entidades conservadoras católicas o consideram um antipapa, um comunista infiltrado na casa de Pedro para incorporá-la ao movimento esquerdista-libertário que varreria o mundo naquela década.

Durante o concílio, Ratzinger serviu como peritus, uma espécie de consultor teológico. Nessa época, era visto como um reformador, alinhando-se com pensadores do naipe de Hans Küng e Edward Schillebeeckx.

Ratzinger logo se tornou muito próximo do jesuíta alemão Karl Rahner, um dos expoentes da chamada Nouvelle Théologie, que teve vários de seus postulados condenados na encíclica Humani Generis, do papa Pio XII. Essa visão não era compartilhada por João XXIII, que o escalou como consultor no concílio. Rahner elaborou sugestões, defendeu a renovação da instituição e acabou por influenciar decisivamente suas plateias.

Ratzinger seguiu muitas dessas ideias e as reproduziu quando professor de Teologia na Universidade de Tübingen. Num de seus livros, escreveu que o papa deveria ouvir diferentes vozes dentro da Igreja antes de tomar importantes decisões.

Por volta de 1968, no entanto, com as insurgências estudantis na Europa, Ratzinger se mostrou preocupado. Via nelas uma forte influência marxista e uma afronta aos ensinamentos tradicionais católicos, especialmente no campo das condutas pessoais. Passou a retardar o passo.

A rigor, Ratzinger nunca admitiu essa guinada ao conservadorismo. Nas raras vezes em que concede uma entrevista, costuma declarar que não alterou substancialmente sua visão sobre o papel da Igreja no mundo. Afirma, por exemplo, que segue como defensor do ecumenismo e da liberdade religiosa.

Volta às tradições

Depois da morte de João XXIII, os cardeais elevaram ao comando da igreja o discreto Giovanni Montini, convertido em Paulo VI, homem sem fervor revolucionário, mas que trabalhou metodicamente para implantar as mudanças definidas pelo concílio, procurando harmonizar as diversas correntes ativas na instituição.

Ao fim de seu pontificado, em 1978, porém, muitas medidas transformadoras ainda careciam de normatização. Assumiu o trono outro italiano, Albino Luciani, convertido em João Paulo I, tido como um homem também sensível à necessidade de humanização e atualização da Igreja.

O “Papa do Sorriso” teve um pontificado curtíssimo e as causas de sua morte constituem, ainda hoje, motivo de polêmica. São vários os autores que sugerem um assassinato, historicamente um recurso comum quando se trata da luta por poder no Vaticano.

Sucedeu-o Karol Wojtyla, convertido em João Paulo II. O papa “pop”, que iniciou seu pontificado aos 58 anos, mostrou-se um bom gestor de marketing e um excelente comunicador. Seu pensamento político se formara na Polônia sombreada pela cortina de ferro, onde nascera, em 1920. Mostrou-se, desde cedo, um opositor do comunismo de estilo soviético, essencialmente ateu e anticlerical.

Assim, desentendeu-se desde cedo com as lutas sociais da esquerda e dos movimentos liberalizantes dentro da Igreja. Via, por exemplo, coincidências entre os postulados da Teologia da Libertação e a doutrina da URSS stalinista.

João Paulo II, tido como um carola jovial, tornou-se aos poucos um juiz severo das modernidades comportamentais. No entanto, abriu a Igreja ao universo da comunicação de massa. Convenceu-se de que precisava reevangelizar o mundo e, para esse fim, utilizou como pôde seus talentos de ator, desenvolvidos na juventude. Tornou-se o meio e, assim, definiu a mensagem.

Enquanto peregrinava pelo planeta, permitia que seus assessores reeducassem a cúpula romana, reaproximando-a da ortodoxia doutrinária. Assim, delicadamente bloqueou vários avanços propostos a partir do Concílio Vaticano II, como a valorização dos leigos, a inclusão de mulheres na hierarquia da instituição e uma compreensão do novo contexto da sexualidade no mundo.

Nessa época, a liderança conservadora encontrou resistência, especialmente na América Latina. Em São Paulo, por exemplo, entidades ligadas à arquidiocese, então liderada por Dom Paulo Evaristo Arns, distribuíam preservativos em nome da preservação da vida. Nos bairros da grande urbe, especialmente na periferia, os padres sabiam que os católicos já não faziam sexo apenas com o objetivo de procriar.

Em suas viagens pelo continente, João Paulo II mostrou-se tocado pela pobreza e não deixou de pedir democracia em países como o Paraguai, ainda mergulhados no autoritarismo. Mesmo assim, dedicou-se a sua missão de desconstruir as redes de ação pastoral popular, nomeando bispos alinhados com o pensamento conservador. Aos poucos, a combativa CNBB tornou-se suave e alinhada com o pensamento da liderança romana. As estrelas deixaram de ser os padres que usavam boinas estreladas, aos poucos substituídos pelos jovens sacerdotes cantores.

Com a morte de prelados influentes, como Dom Luciano Mendes de Almeida (antes enviado ao interior de Minas Gerais) e Dom Aloísio Lorscheider, a obra transformadora se pulverizou.

Os bispos neoconservadores trataram de esvaziar também as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), importantíssimas no processo de redemocratização do país e na organização dos movimentos populares de reivindicação.

A Teologia da Libertação foi duramente golpeada. Figuras de proa do movimento, como Leonardo Boff, foram vítimas de uma Inquisição sem fogueira. Bispos como Dom Pedro Casaldáliga, ligado às demandas de índios e sem-terra, também sofreram fortes pressões do Vaticano.

O líder dessa blitz conservadora, desde 1981, foi o chefe da Congregação para a Doutrina da Fé (versão moderna da temível Congregação do Santo Ofício), cardeal Joseph Ratzinger, visto por muitos católicos progressistas como um Torquemada culto, racionalista, metódico e implacável.

Após a morte de João Paulo II, em 2005, o próprio Ratzinger assumiu o poder, determinado a reorganizar a Igreja por dentro. Desde o primeiro momento, mostrou que, ao contrário do antecessor, não se sentia à vontade sob os holofotes da mídia.

Em seu discreto pontificado, liderou um retorno às tradições na Igreja. Manteve, por exemplo, restrições ao uso de preservativos, embora se comente que o assunto o atormentava nos últimos anos. Considerou as afeições homossexuais como desvios, sugeriu que islamismo tenha surgido como uma religião violenta, ofereceu obstáculos ao processo de valorização dos leigos e rejeitou as propostas de flexibilização do celibato.

Suspiro derradeiro

Como é grande e complexa, entretanto, a Igreja se subverte aqui e ali, longe dos olhos de Roma. Em silêncio, um ou outro sacerdote mantém a chamada “opção preferencial pelo pobres”. Ao mesmo tempo, na frente conservadora, entidades como o Opus Dei procuram ampliar sua influência na instituição.

De fato, Bento XVI sente o peso da idade. No entanto, não se descarta a hipótese de que sofra pressões na sede do poder. Há quem aposte que esteja sendo vítima de chantagem, depois que inúmeros documentos do pontificado foram desviados por uma célula de espionagem que tinha, como face visível, um misterioso mordomo.

Sabe-se, por exemplo, que as instituições financeiras católicas serviram muitas vezes a causas nada pastorais e cristãs. Liderado de 1971 a 1989 pelo finado arcebispo norte-americano Paul Marcinkus, o Banco do Vaticano tomou parte numa rede de negócios ilegais que tinha como participantes a loja maçônica P2 e grupos de extrema-direita responsáveis pelo estabelecimento da “estratégia da tensão” na Itália. Nessa época, o projeto era semear o terror no país por meio de atentados (que efetivamente mataram muitos inocentes) e, assim, validar um regime autoritário, sustentado por uma doutrina de segurança nacional.

Hoje, nos bastidores da Santa Sé, os boatos se multiplicam. Algum abuso do gênero pode ter se repetido, com ou sem o consentimento do pontífice. Jornalistas que cobrem os assuntos da Cúria suspeitam de que muitas das descobertas do mordomo ainda não tenham sido divulgadas.

Ao mesmo tempo, o Vaticano tem sido palco de batalhas obscuras pelo poder. Não se trata mais de uma contenda entre progressistas e conservadores, posto que os primeiros foram praticamente aniquilados nas instâncias de poder. A disputa se dá entre novos e velhos, entre facções, entre figuras que secretamente almejam conquistar o comando de um rebanho que conta com mais de um bilhão de almas.

Para determinados grupos, Ratzinger representava a ameaça de uma limpeza moral em determinadas instâncias da Igreja. Sob seu comando, clérigos maculados pela prática da pedofilia poderiam sofrer graves punições, mesmo considerada a morosidade das investigações internas. Ao mesmo tempo, corruptos supostamente ativos nas instituições bancárias poderiam ser entregues às autoridades leigas.

Os próximos meses serão importantes na definição dos novos caminhos da Igreja. E é certo que os jornalistas atentos terão muito o que narrar a seus leitores.

Cabe lembrar que os antecessores de Bento XVI, na frieza de seus sepulcros, encontraram-se limitados para influenciar o conclave. O sacerdote alemão, no entanto, está vivo para falar ao ouvido dos cardeais. Mesmo fraco e entristecido, segue um bom argumentador. Pode, num último suspiro, fazer seu sucessor, provavelmente jovem, provavelmente conservador, capaz de unificar a cúpula da Igreja romana e fazer deslanchar o processo da contrarrevolução.

***

[Walter Falceta Jr. é jornalista. Trabalhou por vários anos na cobertura de assuntos religiosos, atuando em veículos como Veja e O Estado de S. Paulo. A serviço do jornal, entrevistou o cardeal Ratzinger, durante um curso para bispos, realizado em 1990, no Rio de Janeiro]

Arroz, Restinga Seca o inicio da Colheita 2013.



                    Arroz inicio oficial de sua colheita na cidade de Restinga Seca.
                    O Rio grande do Sul produz 65% da safra nacional.
             Gera em sua cadeia mais emprego que as montadoras de veículos. E o produto agrícola mais consumido no mundo.
                  Este ano foi uma grande safra, alimenta, gera trabalho e renda, e seu consumo esta caindo, cresce o consumo de pizza, chis, mac's, fritas e um monte de porcarias, que aos poucos vai fazendo a população brasileira diminuir seu consumo com seu parceiro feijão uma dupla da cultura e história de nossos antepassados e uma base alimentar extraordinária, rica, deliciosa e combustível de nossa economia.



Esteve em Restinga Seca o programa a Voz do Campo, com Marcelo Brun sua equipe em uma cadeia de rádios Rio Grande a fora.

O governador Tarso Genro, participou do inicio oficial da colheita e se comprometeu em manter apoio a todos os produtores e a cadeia produtiva que mais gera trabalho e renda.


Uma verdadeira multidão prestigiou o inicio da colheita e após discursos e solenidade oficial, um carreteiro de fundamento foi servido.

A cobertura da imprensa foi total, com transmissão ao vivo por vários agentes.





absurdo e infeliz evento na Boate Kiss em Santa Maria


Desde o absurdo e infeliz envento na Boate Kiss em Santa Maria, no qual estamos trabalhando incessantemente, não havia achado tempo para postar manifestações na rede virtual. Agora venho a público nesta plataforma, em nome próprio e da @[100001044342117:2048:Polícia Civil Do Rs] na região central para informar à sociedade que o fato será esclarecido em todas as suas circunstâncias e que absolutamente todos os envolvidos terão sua responsabilidade apontada no caderno investigatório, independente da instância a que pertençam. Temos trabalhado desde o início em conjunto com as demais Instituições que têm relação com a fase policial do processo, especialmente Ministério Público, Defensoria, OAB e Poder Judiciário, buscando evidenciar a lisura e imparcialidade com que estamos conduzindo as investigações. Praticamente todos os Policiais Civis de Santa Maria e alguns de fora estão focados no objetivo de FAZER JUSTIÇA. O inquérito policial apontará com clareza e concretude todos os fatos, que serão depois encaminhados ao Ministério Público e outros Órgãos, visando apurar responsabilidades nas searas Civil, Administrativa e Política. Agradeço ao empenho de todos os colegas agentes e delegados. Eu particularmente muito triste pela perda de uma prima muito querida, alunos e conhecidos.

     Delegado - 
Marcelo Mendes Arigony.










             Desde o absurdo e infeliz evento na Boate Kiss em Santa Maria, no qual estamos trabalhando incessantemente, não havia achado tempo para postar manifestações na rede virtual. Agora venho a público nesta plataforma, em nome próprio e da Polícia Civil Do Rs na região central para informar à sociedade que o fato será esclarecido em todas as suas circunstâncias e que absolutamente todos os envolvidos terão sua responsabilidade apontada no caderno investigatório, independente da instância a que pertençam. Temos trabalhado desde o início em conjunto com as demais Instituições que têm relação com a fase policial do processo, especialmente Ministério Público, Defensoria, OAB e Poder Judiciário, buscando evidenciar a lisura e imparcialidade com que estamos conduzindo as investigações.         Praticamente todos os Policiais Civis de Santa Maria e alguns de fora estão focados no objetivo de FAZER JUSTIÇA. O inquérito policial apontará com clareza e concretude todos os fatos, que serão depois encaminhados ao Ministério Público e outros Órgãos, visando apurar responsabilidades nas searas Civil, Administrativa e Política. Agradeço ao empenho de todos os colegas agentes e delegados. Eu particularmente muito triste pela perda de uma prima muito querida, alunos e conhecidos.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sexo Com Cultura É Outra Coisa...



Você sabia que antigamente, na Inglaterra, as pessoas que não fossem da família real tinham que pedir autorização ao Rei para terem relações sexuais? 

Por exemplo: quando as pessoas queriam ter filhos, tinham que pedir consentimento ao Rei, que, então, ao permitir o coito, mandava entregar-lhes uma placa que deveria ser pendurada na porta de casa com a frase ' Fornication Under Consent of the king'
(fornicação sob consentimento do rei)
= sigla F..U..C.K.., daí a origem da palavra chula FUCK.

Já em Portugal, devido à baixa taxa de natalidade, as pessoas eram obrigadas a ter relações:
'Fornicação Obrigatória por Despacho Administrativo'
= sigla F.O.D..A., daí a origem da palavra FODA.

Por sua vez, quem fosse solteiro ou viúvo, tinha que ter na porta a frase: 
'Processo Unilateral de Normalização Hormonal por Estimulação Temporária Auto-induzida'
= sigla P.U.N.H.E.T.A. 
Vivendo e aprendendo...
A gente pode até dizer palavrão, mas com conhecimento e cultura é outra coisa!


Tortura - Para que serve a tortura. Se serve para algo.

Contardo Calligaris* - Folha de SP - 21 Fev 2013
A tortura tem, no mínimo, três fins não excludentes: 1) tortura-se pelo prazer enjoativo de quem tortura ou de quem assiste à tortura; 2) tortura-se para que um acusado confesse seu crime; 3) tortura-se para que um acusado revele a existência de um complô, os nomes de seus cúmplices etc. Será que a tortura consegue tudo isso?

1) Para satisfazer o desejo doentio do torturador, a tortura funciona, sempre.
2) A Igreja Católica, por séculos, torturou pecadores para que admitissem seus pecados e, sobretudo, torturou heréticos para que confessassem suas teologias desviantes.
Essa tortura era tão violenta quanto a que fora praticada contra cristãos na época das perseguições, mas o desfecho era diferente. Os mártires cristãos eram torturados para eles renunciarem à religião, e, às vezes, se abjurassem, o suplício era suspenso. Os heréticos eram torturados pela Inquisição para confessarem sua heresia, mas, em geral, a "confissão" não evitava uma morte excruciante.
Será, então, que a tortura funciona para arrancar confissões?
Se você for pai, faça a experiência. Seu filho (ou filha) fez uma besteira comprovada, sem sombra de dúvida, mas você não se contenta em aplicar uma punição e quer que a criança confesse. Se ela reconhecer sua culpa, aliás, a confissão valerá como uma atenuante, enquanto que, se ela insistir em negar o que fez, a mentira será infinitamente mais repreensível do que a besteira inicial.
Sugestão diferente: se você soube que seu filho ou sua filha fez algo que não devia, diga no que foi que errou, deixe pouco espaço de discussão e dê a punição adequada. Depois disso, amigos como antes.
Quase sempre, quando uma confissão é exigida, as crianças mentem com obstinação diretamente proporcional à de seu acusador. Elas fogem assim de uma humilhação radical, em que renunciariam à sua própria subjetividade: desistiriam de ter segredos e aceitariam que a versão do acusador substituísse a versão que elas gostariam de contar como sendo a história delas.
Claro, se você insistir, ameaçando a criança com punições cada vez mais requintadas, a criança talvez "confesse", mas a confissão será apenas um ato de desistência, em que mesmo o inocente se dirá culpado do jeito que o acusador pede. Em suma, a tortura para obter confissões é um desastre.
Há uma certa beleza moral nesse fracasso: a tortura seria inútil, não ajudaria a chegar à verdade. Ou seja, existe um justificativa prática, "racional", para aboli-la, além do horror que ela inspira em qualquer um (salvo, obviamente, em torturadores, inquisidores ou deuses vingativos).
3) Infelizmente, esse argumento "racional" só se aplica à tortura que tenta extirpar a confissão do acusado. Quanto ao uso da tortura para obter informações sobre cúmplices, paradeiros escondidos, complôs etc., vamos ter que encontrar razões puramente morais para bani-la, pois, constatação desagradável, ela funciona.
O saco plástico do capitão Nascimento funciona. Os "interrogatórios" brutais do agente Jack Bauer, na série "24 Horas", funcionam. E, de fato, como lembra "A Hora Mais Escura", de Kathryn Bigelow, que acaba de estrear, o afogamento forçado e repetido de suspeitos detidos em Guantánamo forneceu as informações que permitiram localizar e executar Osama bin Laden.
Nos EUA, na estreia do filme, alguns se indignaram, acusando-o de fazer apologia da tortura. Na verdade, o filme interroga e incomoda porque nos obriga a uma reflexão moral difícil e incerta: a tortura, nos interrogatórios, não é infrutuosa --se quisermos condená-la, teremos que produzir razões diferentes de sua inutilidade.
Para se declarar contra o uso da tortura no caso deste filme, alguém talvez invoque a moral kantiana e o dever de tratar os homens como fins e não como meios. A esse alguém, proponho um exemplo politicamente mais neutro, parecido com aqueles dilemas morais cuja prática (como descobriu um grande psicólogo, Lawrence Kohlberg) talvez seja a melhor forma de educação moral.
Uma criança foi sequestrada e está encarcerada em um lugar onde ela tem ar para respirar por um tempo limitado. Você prendeu o sequestrador, o qual não diz onde está a criança sequestrada. Infelizmente, não existe (ainda) soro da verdade que funcione. A tortura poderia levá-lo a falar. Você faz o que?
*Contardo Calligaris, italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma mulher que ensina o prazer é santa ou é puta?



Da Época


Uma mulher que ensina o prazer é santa ou é puta?

Ivan Martins

Eu a conheci na faculdade. Baixinha, sorridente, era muito sensual sem ser bonita. Gostava de mim, mas também gostava de outro sujeito, mais velho, e provavelmente de mais alguns, de quem eu nunca soube. Era generosa. Aguerrida. Uma vez, conversando sobre sexo, me disse que, num mundo sem preconceitos, seria prostituta. Não apenas pelo prazer de transar, que era enorme nela, mas pela possibilidade de ajudar. “Tem tanto homem triste por aí”, ela me disse. “Gente feia, doente, mas que é bonita por dentro. Essas pessoas precisam de carinho.” Ela achava que seu corpo poderia ser usado para reduzir as dores do mundo. 

Ontem, vendo As sessões – o filme em que Helen Hunt interpreta a terapeuta que ajuda um homem paralisado a perder a virgindade – eu acho que entendi, 30 anos depois, o que a minha amiga queria dizer. E que tipo de pessoa era ela. 

A terapeuta do filme, inspirada numa mulher de verdade, ajuda as pessoas com dificuldade sexuais a descobrir o prazer. Conversa com elas, toca e se deixa tocar, transa. Trabalha em conjunto com uma psicóloga, discutindo as necessidades e dificuldades do paciente. Uma dessas profissionais, que ainda hoje atua na Califórnia, deu entrevistas recentes à imprensa brasileira e disse já ter atendido mais de 900 pessoas, homens em sua maioria. Não deve ser gente particularmente bonita. Muitas nem serão agradáveis. Mas a terapeuta se despe e se deita com elas do mesmo jeito. É um trabalho, mas também uma missão. 

Há um pouco da minha amiga nessa terapeuta do sexo, mas talvez haja um pouco dela em cada mulher.

As mulheres fazem sexo porque gostam, mas fazem também porque nós, homens, precisamos disso desesperadamente. Fazem por carinho e às vezes por pena. Fazem para ver – eu já ouvi isso – os nossos olhos brilharem de satisfação. Elas nos dão de presente seus corpos macios e nós, muitas vezes, abrimos o pacote com pressa, famintos, sem sequer perceber que há um bilhete com dedicatória. Ao contrário do paralítico do filme, que entende o tamanho da graça que recebe, nós não choramos felizes e comovidos. Mas talvez devêssemos. Assim como na profissional descrita pelo filme, há um quê de santa (e de puta, naturalmente), em cada mulher que nos recebe entre as suas pernas - com as nossas dores e os nossos medos, com as nossas vaidades e injustificadas aspirações. 

Por essas razões, e por outras que não entendo inteiramente, o filme me deixou terrivelmente comovido. 

Talvez porque eu ainda sinta, como um garotinho impúbere, que as mulheres que se deixam despir, tocar e penetrar realizam um ato de profunda e impagável generosidade para com os homens. Talvez porque eu me perceba, como o paralítico do filme, como todos os homens que eu conheço, assustadoramente dependente da atenção, do corpo e do afeto femininos. Talvez, ainda, porque, assim como personagem do filme, e como todos, homens e mulheres, eu seja capaz de antever, no momento mesmo em que o prazer explode, a iminência da perda e a profundidade da separação que se insinuam. O sexo que acabou nunca é o bastante, nunca é suficiente, nunca é exatamente o que buscávamos. Queremos amar e ser amados. Queremos tudo. 

Minha amiga, aos 20 e poucos anos, intuía isso tudo. Por isso sonhava em colocar o seu corpo a serviço das almas e dos corpos doentes. Se vivesse em outro país, talvez isso virasse uma carreira. Aqui, é provável que essa vocação tenha simplesmente adormecido, como tantas coisas que a gente sufoca na juventude para nos tornarmos adultos produtivos. Mas, onde quer que esteja, tenho certeza que se minha amiga vir o filme reconhecerá, naquela mulher que goza com o corpo sofrido de um bom homem, a possibilidade de sentimentos que estão muito além do hedonismo e do moralismo. Tomara que ela veja o filme – e que o papa Bento XVI veja também. Nunca é tarde para se perceber certas coisas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ditadura Militar - Os estranhos visitantes do Dops


Os estranhos visitantes do Dops
· Nacional Patrícia Benvenuti 
da Reportagem O que um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) faria em um centro de torturas da ditadura civil-militar (1964-1985) duran­te madrugadas? O que levaria um cônsul dos Estados Unidos a esse mesmo lugar repetidas vezes, por longas horas? É sobre essas questões se que se de­bruçam atualmente os membros da Co­missão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. Por meio de in­vestigações, a Comissão apurou que pessoas ligadas à Fiesp e ao Consula­do eram presença constante durante os dias e as noites do Departamento Esta­dual de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), um dos órgãos represso­res criados pelo regime.Para tentar esclarecer esses fatos, a Comissão Estadual da Verdade realiza­rá uma audiência pública na próxima segunda-feira (18), às 14h, na Assembleia Legislativa (Alesp), onde apresentará os documen­tos que embasaram as investigações. 




“Coincidência”? Cônsul estadunidense entra no Dops cinco minutos depois 
do capitão Ênio Pimentel Silveira, um dos torturadores mais famosos 
do período - Foto: Documentos do Arquivo Público do Estado de São Paulo
Visitas frequentes A chave para a descoberta foi uma pesquisa no “Coincidência”? Cônsul estadunidense entra no Dops cinco minutos depois do capitão Ênio Pimentel Silveira, um dos torturadores mais famosos do período - Foto: Documentos do Arquivo Público do Esta­do de São Paulo. Ao checar os livros de registro de entrada e saída do pré­dio do Dops, localizado no centro da ca­pital paulista, integrantes da Comissão Estadual da Verdade perceberam a fre­quência de dois nomes, que não faziam parte das equipes policiais: “Dr. Geral­do Rezende de Matos”, que se apresen­tava no formulário como “Fiesp”, e “Dr. Halliwell”, que assinava como “Consula­do Americano”. Além da assiduidade, despertaram atenção os horários em que os represen­tantes da Fiesp e do consulado estaduni­dense se dirigiam ao prédio do Dops e as longas horas em que permaneciam ali. Somente nos meses de abril a setem­bro de 1971 (os livros com os outros me­ses deste ano desapareceram), Geral­do Rezende de Matos, da Fiesp, dirigiu­se ao local 40 vezes. Em uma dessas vi­sitas, sua entrada ocorreu às 17h30min, mas não consta horário de saída. Como os funcionários da portaria trabalhavam apenas até 22h, os movimentos feitos de­pois deste horário não eram anotados. Significa, então, que Matos teria ficado além das 22h. Já em outro registro, de 24 de abril de 1972, o representante da Fiesp entra no prédio às 18h20 e sai às 12h35 do dia se­guinte, 25 de abril. Foram cerca de 18 ho­ras no local. “O que o cara da Fiesp ia fazer lá? Essa é a pergunta que fazemos”, explica o co­ordenador da Comissão Estadual da Ver­dade, Ivan Seixas. Seixas, que também é ex-preso políti­co e membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políti­cos, conta que a Comissão já pediu escla­recimentos à Fiesp sobre o assunto. A fe­deração, por sua vez, alega não ter regis­tros de Geraldo Rezende de Matos. De acordo com investigações da Co­missão, Matos era um empresário ligado aos ramos de metalurgia, além de pos­suir uma empresa de seguros e repara­ção que atendia militares. 
“A Fiesp tem que explicar isso, não es­tamos inventando nada”, destaca o pre­sidente da Comissão Estadual da Verda­de, o deputado Adriano Diogo (PT-SP). “Queremos saber por que uma pessoa que ia ao Dops, [onde] permanecia horas e madrugadas, assinava como represen­tante da Fiesp”, completa. A Fiesp foi convidada para prestar es­clarecimentos sobre o caso na audiên­cia pública do dia 18. A reportagem en­trou em contato com a assessoria de im­prensa da federação, que não soube in­formar se a instituição estará representa­da. Empresariado Os vínculos do empresariado com os agentes da ditadura são assunto antigo de pesquisas e estudos. O tema é a ba­se do documentário Cidadão Boilesen (2009), dirigido por Chaim Litewski. O filme, que resgata a vida do empresário dinamarquês Henning Boilesen, desve­la não apenas as contribuições financei­ras do protagonista (então presidente do grupo Ultra) ao aparato militar, mas de diversas figuras ligadas a organizações multinacionais e instituições, incluindo a Fiesp. Em novembro, o coordenador da Co­missão da Verdade, Cláudio Fonteles, di­vulgou um texto em que relaciona a Fiesp à produção de armas para os militares que derrubaram João Goulart da presi­dência em 1964. No documento, Fonte­les cita um relatório confi dencial produ­zido pelo Serviço Nacional de Informa­ções (SNI), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, que descreve a criação do Gru­po Permanente de Mobilização Indus­trial (GPMI) em 31 de março de 1964, da­ta do golpe. De acordo com o documento, o órgão teve a função de fornecer “armas e equipamentos militares aos revolucio­nários paulistas”. O caso de Geraldo Rezende de Matos, no entanto, desperta na Comissão outra suspeita. Para Seixas, é provável que as idas de Matos ao Dops visassem a troca de informações entre empresários, a po­lícia e o Exército. “Vem à cabeça de todo mundo, quando se fala em empresários e repressão, o financiamento. Mas nós não estamos trabalhando com essa hipótese. Para nós, a Fiesp ia lá entregar nomes de operários para serem reprimidos”, escla­rece Seixas. Consulado Já o “Dr. Halliwell” dos livros de regis­tros era Claris Rowley Halliwell (1918­2006), cônsul estadunidense no Bra­sil entre 1971 e 1974. Junto à Universi­dade de San Diego, na Califórnia, a Co­missão apurou que Halliwell teria inte­grado o serviço secreto dos Estados Uni­dos, a CIA. Assim como Geraldo Rezende de Ma­tos, ele também comparecia com fre­quência ao Dops, sobretudo à noite, onde permanecia durante toda a madruga­da. De abril a setembro de 1971, Halliwell esteve no local 31 vezes, de acordo com os registros. Em uma das idas, em 5 de abril de 1971, seu ingresso no prédio ocorreu às 12h40min da tarde, cinco minutos de­pois da entrada do capitão Ênio Pimen­tel Silveira, torturador que ficou conhe­cido como “Dr. Ney”. Ambos permanece­ram no prédio além das 22h. As “coincidências” não param por aí. Nesse mesmo dia, pela manhã, havia si-do preso e levado para o Dops Devanir José de Carvalho, dirigente do Movimen­to Revolucionário Tiradentes (MRT). Depois de uma série de torturas, Carva­lho faleceu em 7 de abril. 


Para Ivan Seixas, não há como negar o envolvimento do cônsul com os crimes. “Nos prédios do Dops e da Oban [Ope­ração Bandeirante], quando se torturava não era segredo. O prédio inteiro ouvia, a vizinhança também. O mínimo que se pode dizer era que o ‘cara’ [cônsul] era conivente, mas eu acho que [ele] era par­ticipante”, diz Seixas. Depois de sair do Brasil, Halliwell foi cônsul estadunidense no Chile – onde, um ano antes, um golpe de Estado havia tirado do poder Salvador Allende. “A gente acha que essas coisas são de filme de ficção científica, que ‘na minha terra não tem isso’. O ‘cara’ não estava le­vando os passaportes para a Disneylân­dia, era um agente da CIA”, ressalta o de­putado Adriano Diogo, que integrou a militância estudantil durante o regime. Para o deputado, a revelação desses registros ajudará a contar a história des-se período e a revelar quem praticou e engendrou os crimes.“Os documentos evidenciam a existência de uma enor­me organização criminosa que se reunia nas dependências do Dops para tortu­rar as pessoas, matar e planejar seques­tros”, pontua.