"Este seria um dado interessante para a imprensa debater. A questão de dar emprego para todos num pais pobre e desigual como o nosso certamente mereceria ser tratado como um processo verdadeiramente revolucionário. No entanto...vamos ai texto."
Neomir Alcantara.
Por Luciano Martins Costa
Neomir Alcantara.
Por Luciano Martins Costa
Alguns aspectos do desempenho da economia brasileira em 2012 parecem apanhar desprevenida a imprensa na sexta-feira (1/02). Diferentemente do especializado Valor Econômico, que deu o assunto com menos destaque, os três principais jornais de circulação nacional trazem em suas primeiras páginas reportagens sobre a queda do desemprego em 2012 – tratando a informação como um fato surpreendente.
O tema foi manchete na Folha de S. Paulo, com o enunciado: “Desemprego é o menor em 10 anos; renda sobe”. Aparentemente, a linha fina sob a manchete da Folha explica a perplexidade dos jornais: “Mercado de trabalho tem bom ano apesar do tímido desempenho da economia”.
A mesma surpresa apareceu na primeira página do Brasil Econômico: “Desemprego tem a menor taxa dos últimos dez anos – mesmo com PIB mais fraco, setor de serviços ampliou contratações e empresas adiaram demissões”.
“Desemprego é o menor desde março de 2002”, diz o Estado de S. Paulo na primeira página, complementando, na capa do caderno “Economia &Negócios”: “Desemprego cai a 4,6% em dezembro e atinge o mais baixo nível histórico”.
Paralelamente, os jornais também destacam o aumento da renda familiar, embora tenha se reduzido o número de jovens que procuram trabalho.
Trata-se de um conjunto de dados que exigem alguma reflexão sobre o noticiário econômico. A aparente contradição entre o baixo desempenho do Produto Interno Bruto, que mobilizou reportagens, artigos e editoriais de tom negativo nos últimos meses, e a melhoria da renda do trabalho, não combina com os dogmas econômicos genericamente professados pela imprensa brasileira.
O aumento de 4,1% na renda contrasta principalmente com o fraco desempenho do PIB, que cresceu apenas cerca de 1% no ano passado. Um apêndice na reportagem do Estadão sobre o assunto resume a surpresa da imprensa. “Enigma: um PIB que cresce 1% em geral não produz alta no emprego, nem no rendimento, como no ano passado. Os economistas não têm explicação segura sobre o resultado”, afirmou o jornal.
A mesma curiosidade tem sido manifestada pela imprensa internacional de economia, como mostra artigo publicado no blog do jornal britânico Financial Times especializado em países emergentes, e citado peloEstadão. O especialista confessa não entender alguns aspectos da política econômica do Brasil.
Uma nova economia
De fato, essa parece ser a questão central: a imprensa, de modo geral, trabalha com padrões que podem estar superados, após a crise financeira de 2008, seguida da sucessão de intervenções de governos na economia e culminando com as dificuldades presentes na zona do euro e nos Estados Unidos.
Além disso, o advento da chamada “economia verde”, expressão que populariza as novas condicionantes para a atividade produtiva e a aplicação do capital, criadas pela questão ambiental, obriga a repensar o próprio conceito de desenvolvimento.
O Produto Interno Bruto, por exemplo, que segue sendo uma obsessão para economistas com grande reputação na imprensa, já não é considerado um indicador satisfatório para mensurar o estado das economias nacionais.
Em seu livro intitulado Muito além da economia verde, lançado em meados do ano passado, o filósofo e economista Ricardo Abramovay, professor titular na Universidade de São Paulo, levanta questões como essa, apontando a necessidade de reconsiderar os fundamentos do pensamento econômico, ainda dominado por dogmas do século passado. Segundo Abramovay e outros estudiosos, uma nova realidade do mundo desautoriza o pensamento conservador.
A aceleração do processo de globalização dos mercados e das relações sociais, o desenvolvimento sem precedentes das tecnologias de informação e comunicação, além da constatação de que as economias não podem crescer indefinidamente no padrão de exploração das reservas naturais, são condicionantes de um novo olhar sobre o sistema de produção e comércio.
A questão central, segundo essa visão, se resume nas perguntas que em geral os economistas apreciados pela imprensa não costumam fazer: crescer para que, produzindo o que, e com que resultados para a sociedade?
Quando o PIB permanece encolhido, e mesmo assim a renda familiar cresce e o desemprego diminui, contribuindo para reduzir as desigualdades, o resultado é o sentimento de perplexidade que se observou nas edições de sexta-feira nos jornais.
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