segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Cleo Bonoto - Bateu uma saudade indescritível, do meu companheiro.

Mestre Cleo Bonoto.
            Sólito, tomando mate, me deu uma profunda saudade do Cleo, vontade de falar, brigar, cantar, apertar a mão. Falamos muito sobre este presente que um dia foi futuro.
Acho que é a chuva, os bolinhos fritos que fiz e comi, acho que é saudade.
Não consigo mais escrever.
            Huuuuu....


CLEO BONOTO, AMIGO E COMPANHEIRO.


Cleo Bonoto, amigo e companheiro.


Conheci o Cléo, quando fui visitar seu Pai meu amigo e companheiro Ivo Bonoto, em Ernesto Alves há uns 15 anos atrás, estava junto com um companheiro do MST, que estava fazendo o reconhecimento da região. Quem tinha indicado o Ivo era a Tunica professora e militante do PT e movimentos sociais, eu tinha uns dois anos de Santiago e estávamos buscando elementos para análise de potencialidades de desenvolvimento regional e perceptivas partidárias. Fomos extremamente bem recebidos, estávamos numa moto velha de São Luiz, o companheiro Ivo nos recebeu com carinho e respeito, toda a família tinha a visão de construção de movimento e a necessidade de um partido que faça a reflexão na perspectiva dos trabalhadores, principalmente os da agricultura familiar e reforma agrária. Conheci o Cleo Bonoto que estava brincando ou com alguma tarefa no porão da casa de pedras, como Cleo dizia “Bonoto pobre”, e eu custei a entender isto na época. Um guri lindo, um italianinho de cabelos amarelos e olhos claros e um orgulho estampado de seus pais e história familiar, pela luta, solidariedade, associativismo, dos trabalhadores, pela natureza, pelo respeito e necessidade das diversidades da vida. Desde o primeiro momento mantive relações afetivas com a família, várias vezes compartilhei almoços e jantares, lembro de sua nona que me chamava de índio, dormi no porão de pedra, bebemos vinho e canha refletindo sobre o mundo e o atraso de Santiago e região, debatemos o cemitério de Ernesto Alves onde fez pesquisa sobre as famílias e localização de túmulos, um deles do avô da apresentadora Xuxa, um furungador e apaixonado pela História.
Seu pai guardava objetos antigos, históricos, e por esta época estávamos constituindo um grupo que queria chamar a atenção do descaso das autoridades sobre a estação férrea, seus prédios em descomposição e área linda da praça, Cleo foi um dos incentivadores do espaço do “Bric da Estação”, e todos os primeiros domingos do mês por mais ou menos um ano e meio, várias pessoas levavam seus trabalhos, guloseimas, animais, música para briquiar, confraternizar reivindicando a reforma e manutenção há uns 10 anos atrás, hoje realidade.
O Partido dos Trabalhadores e o afeto que tenho pelo seu pai nos aproximaram mesmo, e por estas coisas da vida, fomos ser colegas de aula do curso de história da URI onde juntos e com outros batalhadores fomos campear alunos para formar nossa turma, o curso fazia alguns anos que não formava turma, conseguimos 15 inscrições e o curso de História recomeçava em Santiago. Fomos parceiros com mais alguns maravilhosos colegas de dias históricos para nós, para a URI. Durante mais de quatro anos, estudando, aprendendo, debatendo e propondo projetos, como o Museu da URI, resgates históricos e memórias, como Moisés Viana com repercussão nacional. Muitas amizades, trabalhos, churrascos, festas e as tentativas de criar nosso diretório acadêmico e um DCE. Bom, no mínimo encaminhamos a primeira festa “julina”, ou de inverno que chamávamos quermesse, acredito que tenha até hoje, enchendo de tendinhas nos fundos da Universidade com frio, chuva e tudo. Incentivou-me e apoiou na minha medíocre campanha de vereador pelo PT , um cabo eleitoral incansável ficou a meu lado até o fim junto com a querida Lígia Rosso, outros amigos e familiares, lambendo as feridas de uma derrota prevista. Fomos a primeira turma a realizar a formatura no salão de atos da universidade, que não estava concluído, mas estava bom, e em nosso bom radicalismo, a empresa que organizou nossa cerimônia de formatura era de Santiago. Bem, daí para a frente ele foi professor, mestre, um orgulho para todos. Seguidamente me visitava no Sebo Santiago, buscando material e subsídios, sobre a reforma agrária e as conquistas sociais que a envolve, levou quase tudo o que tinha e fez um trabalho de pesquisa de fundamento.
Quando eu era presidente do PT de Santiago e trabalhava na Câmara de vereadores, eu, ele e alguns colegas de aula buscávamos aprender bem usar o computador, para fazer nossos trabalhos, debatendo muito socialismo , Marx. Quando nos apaixonamos por Gramsci, ai o pau comeu, o meu querido amigo, pediu a desfiliação do Partido dos Trabalhadores como um dos motivos de nossas divergências de interpretação da conjuntura direitista retrógrada de Santiago e posições burras do partido local. Pior foi ter que assinar seu encaminhamento de desfiliação por sua solicitação, e o regimento interno me obrigava a isto, era sua vontade, briguei muito, mas não consegui persuadi-lo a continuar filiado.
Nossas últimas empreitadas foram durante a campanha Dilma e Tarso, onde ele botou o time em campo. Por fim estávamos articulando juntos e alguns colegas de URI o seu retorno ao Partido dos Trabalhadores e a formação de um grupo na Universidade. Há um mês me ligou articulando e pedindo para divulgar a “Mostra Direito à Memória e à verdade – Ditadura Militar”. Recebi um convite para o Seminário como Coordenador do Partido dos Trabalhadores do Vale do Jaguari, um belo trabalho, um esclarecedor e histórico seminário. Foi a última vez que conversei com Cleo, estava satisfeito, empolgado, feliz, e é esta imagem que guardarei deste querido amigo e companheiro. Até mais, cabeça! Até mais!

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