Teatro Porto Alegrense:
No jogo de ontem sentei no meu setor, 4º anel, em cima da Geral interditada. Atrás de mim, um grupo de amigos, umas 6 pessoas. Um deles inclusive acompanhado de uma moça e uma menininha de uns 4 anos de idade, provavelmente esposa e filha. Pessoal tranquilo, na paz, em clima amistoso.
De repente um dos rapazes do grupo tira a camisa. Não demora e um “orientador” da Arena vem repreendê-lo. Todos se irritam. “Como assim não posso tirar a camisa no estádio?” Isso é permitido desde que Charles Miller trouxe o futebol para o Brasil, aproximadamente. A estranheza é natural. Mesmo contrariado, o rapaz veste o manto tricolor e o funcionário da Arena vai embora.
Foi o suficiente para o clima mudar na nossa “região”. Alguns deboches começaram a surgir por parte dos torcedores, tipo: “hey, seguranças, meu amigo aqui falou um palavrão, tira ele!” E essa “vibe” foi minando a ala norte das cadeiras superiores.
Em dado momento a Geral do Grêmio, provisoriamente do lado oposto ao que estávamos, conseguiu dar uma boa animada no estádio. O time ajudou em campo com sequência de lances de perigo e o clima contagiou toda a Arena. Então dois daqueles rapazes se levantaram e começaram a entoar cânticos de apoio. Foi aí que “o bicho pegou”. O funcionário de camisa pólo azul e boné amarelo voltou à cena. Pediu para que sentassem. E aí um deles se revoltou: “me desculpe, mas não vou sentar. Sei que é só uma ordem que tu tá cumprindo, mas então me chama o Presidente da OAS aqui e faz ele me pedir pra sentar. Não vou sentar“. Não sentaram mesmo. E seguiram cantando.
Aí o grupo já se “ouriçou” com esse episódio e todos se levantaram, mais para afrontar as estúpidas leis do que para, de fato, apoiar o time ou extravasar alguma emoção. Grupos de pessoas próximas também começaram a se levantar. Funcionários iam repreendê-los e tomavam vaias. Gritos de guerra contra a OAS começaram a pipocar. Torcedores desgostosos começaram a se juntar ao grupo que estava bem atrás de mim. Criou-se uma mini Geral do Grêmio. Todos pulando, cantando e fazendo festa. Detalhe: não tinha ninguém sentado atrás deles. Não estavam prejudicando a visão de ninguém. Todos os torcedores próximos mostravam-se à favor dos “revoltosos”.
Outro funcionário tentou conter a “fuzarca” e tomou uma “mijada” de um tiozinho de cabelo branco que estava sentado bem quieto ali perto. Não ouvi exatamente o que esse senhor falou, sei que a galera vibrou e começou a gritar “tio! Tio! Tio! Tio!” Mal vi o 2º tempo. Os episódios das “arquibancadas” estavam muito mais divertidos.
E lá estava eu, rindo de um grupo de torcedores que pulava e cantava. Qual a graça disso? O que pode ser mais normal do que um grupo de torcedores pular e cantar em um estádio? Então por que eu ria? Era engraçado porque era proibido. Um grupo de orientadores da Arena se juntou pelas cercanias. Seguranças ficaram de olho nesses torcedores, se comunicando por rádios. Clima hostil e de TRANSGRESSÃO. Uma hora tinha tanto “staff” da Arena nos cercando que eu pensei que o BOPE ia subir correndo em nossa direção. Era o que parecia.
Mas o que esses “criminosos” estavam fazendo? Torcendo. Num estádio. Estavam “sendo torcedores”. Fazendo o que sempre fizeram, desde que nasceram. Fazendo o que lhes faz feliz. Fazendo o que move uma pessoa a pagar uma mensalidade de 90, 180, 200 ou 300 reais ao clube do seu coração. Extravasando.
O futebol não segue a lógica fria e óbvia do mundo. Não faz sentido algum milhões de pessoas rindo, chorando, se emocionando, se irritando e pautando suas vidas por causa de onze barbados que correm atrás de uma esfera de couro. O que move essa paixão é totalmente irracional. A própria paixão é irracional. Não queiram cobrar de TORCEDORES o comportamento de uma plateia de teatro. Não queiram gerir a NOSSA Arena como se fosse um shopping. É outro tipo de empreendimento. E ele só foi erguido por causa dessa paixão. A gente não vai lá pra ver os belos banheiros, o lindo telão ou o escambau. A gente vai lá pelo nosso time. Pra gritar por ele, pra apoiá-lo, pra fugir um pouco desse mundo racional e “equilibrado”. E aí a gente chega lá e um rapaz de boné amarelo nos diz que é proibido se levantar. Encontre o erro.
Me disseram que um dos motivos pelos quais as novas carteirinhas dos sócios demoraram tanto para ficarem prontas é que a OAS enviou ao Grêmio um modelo cujo layout era totalmente baseado na identidade visual da construtora. Parecia carteirinha de sócio da OAS. O escudo do Grêmio vinha num cantinho, como coadjuvante. O clube obviamente não aceitou aquilo e trocaram a arte dos cartões. A história parece besta, mas diz muita coisa.
A OAS parece não saber onde está se metendo. É uma torcida, não são meros clientes. São apaixonados, não são meros consumidores. E ainda por cima existe aquela falta de lógica a qual me referi. Um detalhe bobo não é bobo para apaixonados. Pode ter certeza que muitas pessoas esclarecidas, inteligentes e sensatas que são “gremistas fanáticos nas horas vagas” ficariam descontentes com carteirinhas de sócio com o logo e as cores da OAS em evidência. “Ah, mas que coisa boba”. Não é boba. Ou até é. Mas aí, meu amigo, o futebol como um todo também é. É esse somatório de coisas bobas que faz a gente se emocionar. Inclusive uma esfera de couro entrando num retângulo e balançando uma rede.
O dia que a OAS entender isso, tudo ficará mais fácil. O dia que ela agir como parceira, e não como rival, as coisas vão se acalmar. O dia que ela entender como funciona esse tal de futebol e, principalmente, esse tal de torcedor, os atritos diminuirão. É difícil ter bom senso quando não se tem conhecimento sobre algo. Acho que falta um pouco a eles. Falta também um pouco de humildade pra reconhecer essa inexperiência.
Estive me informando mais sobre o NEGÓCIO entre Grêmio e OAS (ainda quero falar mais sobre isso) e nessa busca por informações cheguei a ligar para o conselheiro Giuliano Vieceli, um dos maiores conhecedores do caso desde os primeiros passos do projeto. Acredito que seja um BAITA negócio pra ambos. As duas partes têm muito a ganhar com essa parceria. E antes de abordar o tema com maior profundidade, já deixo com vocês um desenho esclarecedor elaborado pelo Giuliano: AQUI (link no Blog).
Percebe-se, portanto, que a relação não é de competição. É de PARCERIA. Se a OAS encher os bolsos de dinheiro, encheremos junto e vice-versa. O sucesso da Arena é benéfico aos dois envolvidos. Mas esse sucesso só será concretizado se os GREMISTAS abraçarem a causa. Pagarem mensalidade, consumirem lá dentro, se sentirem em casa, encherem o estádio nos dias de jogos, etc. Se a gremistada torcer o nariz para a Arena por causa da OAS, será um tiro no pé do próprio clube. Temos que abraçar a causa. Mas a OAS tem que colaborar. Ter bom senso. Entender o futebol. Jogar junto.
E se o Grêmio der uma aula de futebol na quarta-feira e o Barcos fizer um gol antológico, me desculpem, mas ficarei de pé. A OAS não tem nada a ver com isso. Essa emoção é entre o Grêmio e eu. Só sento se o Koff me pedir pra sentar… Se ele não for barrado na entrada do estádio.
Saudações azuis, pretas e brancas.
@lucasvon
Nenhum comentário :
Postar um comentário