No século XXI, não é mais possível pensar em debater sociedade, comunicação e representação sem considerar as novas tecnologias. O terceiro debate do seminário Crise da Representação e Renovação da Democracia, na tarde desta sexta-feira (6), abordou temas como participação, deliberação, soberania e comunicação e sua relação com o uso da internet e de ferramentas digitais na consolidação de novos modelos de democracia.
Para o sociólogo Sérgio Amadeu, diversas estruturas sociais atuais, como os partidos políticos, criadas no mundo industrial, enfrentam uma crise de intermediação. “A democracia representativa lida mal com a instantaneidade e a aceleração de informações”. Se as tecnologias põem em xeque modelos estabelecidos de democracia, elas também fornecem condições para ampliar a interação e a participação dentro de governos, para aproximá-los da população ou para hackeá-los. “Democracia deliberativa não é a que pensa que todo o mundo tem que participar o tempo todo, mas aquela em que todo o mundo tem que ter autonomia para poder participar”, afirmou. Para que a rede seja livre, no entanto, Amadeu enfatizou a necessidade de se aprovar o marco civil da internet, que afirmou ser a maior urgência para garantir o fortalecimento da democracia.
Na sequência, Wilson Gomes começou questionando tudo o que vinha sendo discutido até ali: “eu acho que a representação política não está em crise”. O professor de Teoria da Comunicação da Universidade Federal da Bahia apontou grandes dificuldades da democracia, mas acrescentou que elas não significam que a democracia liberal esteja em crise, a menos que ela seja “um sistema em permanente crise”. As novas tecnologias, antes de expressarem deficiências absolutas, apontariam questões pontuais e teriam ainda o papel de fortalecer instrumentos de participação, vigilância, transparência. “As pessoas estão conectadas o tempo todo, e esse ambiente de conexão dá força para posições minoritárias. A invisibilidade protege o mais forte. A visibilidade protege o mais fraco”, concluiu.
Jornalista e, portanto, “alguém que entende da prática e não da teoria”, na sua própria definição, Natalia Viana falou um espionagem e, principalmente, em comunicação. Responsável pelo Wikileaks no Brasil e diretora da agência Pública de jornalismo investigativo, ela concordou com a existência de uma crise do jornalismo – econômica e de legitimidade. Mas a crise não significa necessariamente o fim: “o jornalismo está em um período incrível de renovação”. A Mídia Ninja, que despontou nas manifestações de junho com a cobertura dos eventos por meio de longas transmissões ao vivo e imersão nos acontecimentos, é, para Natalia, “o fenômeno do jornalismo cidadão, que trouxe a realidade de que o jornalismo está mudando”.
Por fim, o diretor do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (Cegov) da UFRGS, Marco Cepik, defendeu que “essa sociedade mais ágil, mais tecnológica, não necessariamente cria o ambiente ideal para a deliberação”. Após questionar os conceitos de representação e as reflexões sobre ela de pensadores como Rousseau, acrescentou que, ao ampliar a participação e as condições de deliberação, é possível melhorar a qualidade da democracia, “e não tem por que a gente se satisfazer com o que a gente tem agora”.
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