Depois do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e da ex-ministra da Cultura Marta Suplicy, ba quinta-feira foi a vez de a bancada do PT na Câmara desfiar um rosário de reclamações em relação ao governo Dilma Rousseff. Apesar de o partido contar com 17 integrantes na equipe de Dilma, os petistas defenderam a necessidade de a presidente ter um Ministério “mais qualificado” e com mais representatividade política. Cobrando mais diálogo e maior participação no segundo mandato, os deputados do PT atribuíram o desempenho ruim da sigla nas eleições deste ano ao desgaste da defesa do governo Dilma.
— Como um partido que está há 12 anos no governo perde 19 deputados federais e só elege dois senadores? Tínhamos 149 deputados estaduais no Brasil e agora elegemos 109. Houve perda de protagonismo do PT na formatação e execução de políticas públicas. No PT, estamos muito mais expostos para defender o governo nas questões mais difíceis. Enquanto isso, representantes de partidos aliados, que fizeram campanha para Aécio (Neves) e Marina (Silva), estão na ponta da execução de políticas do governo — queixou-se o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).
Para o líder do PT na Câmara, Vicentinho (PT-SP), é importante que para o segundo mandato a presidente Dilma defina um Ministério com “cara nova” e “dinâmico”. Dos 39 ministérios, 17 estão sob comando do PT, mas, para deputados, muitos nomes não representam o partido.
Participantes da reunião, que começou pela manhã e entrou pela tarde de ontem, afirmaram que no momento em que o debate resvalou para críticas ao governo os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) já tinham ido embora. Parte da bancada endossou as críticas feitas pela ex-ministra Marta Suplicy, que, ao pedir demissão, desejou que Dilma “seja iluminada ao escolher a nova equipe econômica, que resgate a confiança e a credibilidade em seu governo”.
QUEIXAS DE FALTA DE DIÁLOGO
Os deputados também reclamaram da falta de diálogo do Palácio do Planalto com a bancada antes de enviar projetos para o Congresso. E disseram que isso não acontecia no governo Lula. Para os deputados, o PT se sacrificou pelo governo e acabou ficando isolado na Câmara. Isso estaria prejudicando agora o partido na disputa pela presidência da Casa.
— Ninguém se importa de comprar brigas. Mas, enquanto isso, o resto da base está negociando, o governo acaba cedendo, e nós ficamos com a imagem de pouca flexibilidade — disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ).
A bancada também reclamou do perfil técnico do atual Ministério e do fato de ser composto por pessoas de pouca expressão:
— A Izabella Teixeira (ministra do Meio Ambiente) é do Rio. Durante a campanha, na hora da guerra, o que ela agregou para vencer a batalha? Em que comunidade ela foi? Com que sindicato se reuniu? Para ser ministro tem que ter ligação com movimento social, ter representatividade política, não pode ser só técnico — afirmou um deputado do Rio.
Muitos deputados petistas perguntaram para o presidente do partido, Rui Falcão, como andam as negociações para a reforma ministerial, e ele respondeu que ainda iria conduzir conversas internas no PT sobre o tema. Na reunião, Berzoini disse que o processo da reforma ministerial não tem pressa, e que o ritmo será determinado pela presidente.
Na quinta-feira da semana passada, Dilma reuniu deputados e senadores petistas no Palácio da Alvorada para um coquetel, como forma de mostrar disposição ao diálogo.
— As coisas estão caminhando, houve o coquetel, depois ministros estiveram na reunião da bancada. Há boa expectativa porque a relação vem melhorando substancialmente — disse Vicentinho.
Sobre as críticas à presidente Dilma e ao governo, durante o encontro de ontem, o líder petista enfatizou que são naturais e da essência do partido.
— Houve avaliações individuais mais duras, mas, na média, foi uma análise positiva — afirmou Vicentinho.
O ritmo de entrega de cartas de ministros colocando os cargos à disposição da presidente Dilma para a composição da nova equipe estancou depois que ela minimizou a iniciativa do ministro Aloizio Mercadante de pedir os cargos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, confirmou que também entregará uma carta de demissão à presidente nos próximos dias. Aliados da presidente veem a saída de Lobão do ministério como certa.
— Não entreguei ainda, vou entregá-la, até porque é uma recomendação para todos fazerem. Entregarei amanhã, ou na segunda-feira, ou na terça — disse Lobão ao GLOBO, ontem.
Na reunião com a bancada do PT na Câmara, Gilberto Carvalho falou sobre a posse de Dilma. Disse que a ideia é fazer uma grande festa popular, com a presença de muitos filiados e jovens, e pediu mobilização por parte dos deputados. A meta do partido é levar 100 mil pessoas às ruas de Brasília, no dia 1º de janeiro, para mostrar a força da presidente Dilma no início do segundo mandato.
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