Prêmio de física vai para os responsáveis pela descoberta de que o cosmos se expande de maneira cada vez mais veloz Durante décadas, eles voltaram o olhar e o pensamento para o céu. Detectaram mais de 50 explosões colossais de estrelas – fenômeno conhecido como supernova –, a 6 bilhões de anos-luz da Terra. Realizaram complexas medições e foram forçados a reavaliar seus próprios conceitos. Se esse processo poderia ser frustrante para a maioria dos colegas, para esses três cientistas ele abriu caminho para a glória. Os norte-americanos Saul Perlmutter, de 52 anos; Brian P. Schmidt, de 44; e Adam Riess, de 41, entraram ontem para o seleto rol dos contemplados com o Nobel de Física. Em 1998, o trio descobriu que, ao contrário do que se imaginava, o universo se expande de modo acelerado. Além de mudar os pilares da cosmologia e da física moderna, a conclusão sugeriu que o espaço é dominado por uma energia escura, correspondente a 70% da sua composição, e fixou a idade do universo em 13,7 bilhões de anos. A Academia Real das Ciências da Suécia concedeu metade do prêmio a Perlmutter — no valor de 5 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 1,4 milhão). A outra metade será dividida por Schmidt e Riess. Perlmutter (leia entrevista abaixo), da Universidade da Califórnia, em Berkeley, receberá a parte maior por ter aberto caminho à descoberta – seu trabalho começou em 1988. Seis anos depois, Schmidt e Riess formaram um grupo distinto e chegaram à mesma conclusão. “As equipes de pesquisa correram para mapear o universo, por meio da localização das supernovas mais distantes”, afirmou a academia, em comunicado à imprensa. Os três cientistas focaram-se em supernovas de tipo Ia. Trata-se da explosão de uma estrela compacta antiga, tão pesada quanto o Sol, tão pequena quanto a Terra e capaz de emitir a luminosidade de uma galáxia inteira. “Por meio da observação da magnitude, os três descobriram que as supernovas pareciam menos luminosas do que deveriam ser em um universo desacelerado”, disse, por telefone, Jailson Alcaniz, físico do Observatório Nacional, sediado no Rio de Janeiro. “Isso levou a crer que as supernovas estavam um pouco mais afastadas. As distâncias no universo acelerado são maiores”, acrescentou. Caía por terra uma crença que durou seis décadas: a de que o universo estava em expansão desacelerada. Isso ocorreu somente até 6 bilhões de anos atrás. Os cientistas pensavam que a força da gravidade funcionava como um freio. “Os estudos de Perlmutter, Schmidt e Riess causaram um boom na cosmologia da última década e abriram várias frentes de trabalho. Hoje, os grupos de pesquisa tentam saber o que é responsável pela aceleração cósmica: se é uma energia escura, uma gravidade modificada, uma constante cosmológica ou algo mais complexo”, explica Alcaniz. Dinâmica cósmica A aceleração permanente do universo indica que entre 70% e 75% de sua composição seria formada por uma energia até agora desconhecida, chamada de energia escura. Seria ela que controla a dinâmica cósmica, funcionando como uma antigravidade e levando ao aumento dessa expansão. “O resultado da pesquisa foi surpreendente. Todos esperávamos que a taxa de expansão do universo estivesse desacelerando. Perlmutter
liderou um grupo para medir essa desaceleração e, em vez disso, descobriu que a taxa de expansão crescia”, afirmou ao Estado de Minas, por e-mail, George F. Smoot III, astrofísico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e Nobel de Física em 2006. Segundo ele, o achado abriu um novo campo de pesquisa para determinar o que provoca a aparente repulsão da gravidade e a consequente expansão da aceleração. “Isso é uma nova física”, comemora Smoot. John C. Mather, astrofísico do Laboratório Cosmológico Observacional da Nasa que ganhou o Nobel de Física em 2006, é outro que celebra a escolha do Comitê Nobel. “A maravilhosa surpresa da aceleração do universo mostrou que a física carecia de algo realmente grande e fundamental, nas maiores escalas cósmicas”, comentou, por e-mail. De acordo com ele, as supernovas foram as primeiras medidas precisas para detectar a aceleração da expansão do cosmos. “Felizmente para a ciência, várias novas técnicas têm sido desenvolvidas desde a descoberta, e elas confirmam os resultados”, acrescentou. Professor da Universidade Nacional Australiana, em Weston Creek, Brian Schmidt descreveu à agência France Presse suas emoções ante a escolha de seu nome. “Me sinto um pouco como quando nasceram meus filhos, com os joelhos tremendo, muito excitado, muito feliz.” Por sua vez, Riess agradeceu à Fundação Nobel pelo prêmio. “Meu envolvimento na descoberta do universo em aceleração e suas implicações pela presença de energia escura têm sido uma aventura incrivelmente excitante. (…) Eu estou profundamente honrado que esse trabalho tenha sido reconhecido”, comentou o professor de física e de astronomia da Universidade Johns Hopkins.
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