É ilustrativo que o 1º Encontro Mundial dos Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu (PR), não tenha recebido da chamada grande imprensa o espaço e a atenção condizentes com sua importância. Significa que esses veículos ainda não compreendem muito bem o novo ambiente das comunicações, que deve ser cada vez mais partilhado com os representantes das novas mídias. E essa incompreensão tem levado ao distanciamento com a população.
A magnitude do encontro revela sua importância: participaram 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 17 etados brasileiros e 23 países de todos os continentes. A troca de experiências foi combustível para avaliações interessantes sobre a relação das novas mídias com as tradicionais, sobre o papel das comunicações no atual contexto internacional e sobre o protagonismo crescente da blogosfera.
A necessidade de uma nova regulação de mídia no Brasil ficou clara durante todo o encontro, inclusive, integrando a Carta de Foz do Iguaçu. O norte para esse marco legal, cuja base de discussão se origina na 1ª Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), é o estímulo ao caráter público, comunitário e diversificado dos meios de comunicação. Só essa perspectiva é capaz de combater os monopólios hoje existentes no setor, via impeditivos às propriedades cruzadas e ao uso indevido de concessões públicas, com garantias ao acesso à comunicação democrática e plural.
Os blogueiros foram consensuais quanto ao “direito humano à comunicação”, portanto, as sociedades devem caminhar para a democratização do acesso aos meios digitais. Um primeiro passo e na direção oposta ao modo como as mídias tradicionais se organizam e tratam a informação, que se vira instrumento de reprodução de desigualdades e fortalecimento do poderio das elites mundo afora.
A experiência foi riquíssima, com debates sobre os avanços, mas também problemas e desafios. Um deles é como enfrentar a estratégia das grandes corporações de tentar sufocar financeiramente os que despontam como ameaça ao seu poderio. O caso mais visível é no bloqueio que Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America impuseram ao WikiLeaks, responsável pela divulgação de mais de 250 mil documentos diplomáticos dos EUA e que se viu obrigado a suspender suas atividades por falta de recursos. Por outro lado, a atomização e superficialidade das mídias sociais e blogs foram vistas como obstáculos.
A Carta de Foz apresenta cinco frentes de luta: 1) Liberdade de expressão plural, descolada da defendida pelos monopólios midiáticos; 2) Contra qualquer tipo de censura ou perseguição, especialmente a que ocorre via judicial; 3) Por uma nova regulação da comunicação; 4) Pelo acesso universal à banda larga de qualidade; 5) Contra a censura na internet.
Trata-se de um conjunto importante de iniciativas, capaz de aprofundar o intercâmbio e fortalecer os laços firmados no primeiro encontro. Definitivamente, há algo de novo no ar, ou melhor, na rede.
Por: José Dirceu
Jornal do Brasil
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