Nos últimos dias, Porto Alegre viveu intensas articulações políticas. Em meio às comemorações dos 50 anos da Campanha da Legalidade e às atividades do 5º Congresso Nacional do PDT, aprofundaram-se as discussões sobre a composição de chapas para a disputa eleitoral pela Prefeitura da capital.
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Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e ministro do Trabalho do governo Dilma (PT), manteve reuniões com os presidentes estadual do PT, Raul Pont, e municipal, Adeli Sell, com o presidente da Assembleia Legislativa, Adão Villaverde (PT), e também com o governador do Estado, Tarso Genro (PT). Seu objetivo é o de atrair o PT para a composição de uma aliança que agregue PDT, PMDB e PT e viabilize a reeleição de José Fortunati (PDT) como prefeito de Porto Alegre.
Na visão de Lupi, que é convergente com as declarações de Genro e de Villaverde, deve ser mantida e ampliada, em Porto Alegre, a aliança partidária já existente nos níveis federal e estadual (ainda que o PMDB seja oposição no nível estadual) e que tornou possível a eleição e vem contribuindo para a estabilidade dos governos Dilma Rousseff e Tarso Genro. Ficariam de fora desta grande aliança, no entanto, o PSB e o PCdoB, que também integram a base de apoio dos governos liderados pelo PT em nível estadual e nacional, mas que apostam na candidatura de Manuela D’Ávila no nível municipal.
As resistências maiores ao acordo que Lupi se dedica a construir são expressas por Pont e Sell. Na condição de presidentes estadual e municipal do PT, ambos insistem na necessidade da manutenção do protagonismo petista na capital. À frente da Prefeitura de Porto Alegre durante 16 anos, por meio de renovação consecutiva de quatro mandatos, consideram que o PT tenha condições de reconquistar a supremacia eleitoral na cidade.
Em nome desta convicção, várias lideranças já se apresentaram ou foram sugeridas como pré-candidatos petistas: Adão Villaverde, Adeli Sell, Henrique Fontana, Maria do Rosário e Raul Pont. Ainda que o PT os apresente como possíveis cabeças de chapa, o partido se afirma disposto a negociar com os demais e não fecha a possibilidade de aceitar um papel coadjuvante, aceitando a candidatura a vice-prefeito.
As articulações entre PDT, PMDB e PT são difíceis, uma vez que PMDB e PT, ainda que aliados no nível federal, são adversários ferrenhos no nível estadual, a ponto de o PMDB-RS não ter apoiado a campanha do seu próprio presidente nacional, Michel Temer, à vice-presidência da República na chapa de Dilma Rousseff.
Por seu lado, o PT condicionou uma possível aliança com o PDT ao rompimento deste último partido com o PMDB e os demais partidos que integram hoje a aliança de governo em Porto Alegre. Para satisfazer o PT, Fortunati (PDT), que se tornou prefeito depois da renúncia de José Fogaça (PMDB) para concorrer ao governo do Estado, teria que retirar as secretarias municipais e os cargos hoje em mãos do PMDB, do PPS e do PP.
Ainda que possa parecer pouco provável, diante deste quadro, uma composição entre o PDT e o PT, ela não é de todo inviável. Caso opte por ceder a cabeça de chapa, por entender que é importante a manutenção e ampliação da atual aliança de nível estadual, uma composição do PT com o PDT de Fortunati seria mais oportuna do que com o PSB e o PCdoB de Manuela. Por se tratar de um primeiro mandato, caso seja eleita, Manuela poderá se candidatar à reeleição em 2016. Com isto, o PT correria o risco de ficar fora do controle político de Porto Alegre por mais oito anos. Aliando-se ao PDT, como Fortunati não poderá disputar um terceiro mandato, o período de espera do PT para tentar reconquistar a prefeitura da capital se reduziria à metade.
Caso a aliança PDT/PT venha a se concretizar, crescem as chances de Adeli Sell, hoje exercendo seu quarto mandato como vereador, se tornar o candidato a vice-prefeito. Será pouco provável que qualquer um dos demais pré-candidatos petistas aceite o papel de vice-prefeito. Maria do Rosário é deputada federal e ministra de Direitos Humanos, Adão Villaverde é presidente da Assembleia Legislativa, Henrique Fontana é deputado federal e Raul Pont é deputado estadual e já foi vice-prefeito e prefeito de Porto Alegre. Dificilmente aceitariam um papel de menor protagonismo.
Sem a aliança com o PT, as chances eleitorais de Manuela D’Ávila e da coligação PCdoB/PSB se reduziriam em muito. Restaria a possibilidade de uma aliança que incorporasse os partidos à direita, como o PTB e o PP, com os quais os comunistas e socialistas mantém pouca afinidade ideológica e proximidade política. Além disso, nenhum destes dois partidos tem presença eleitoral marcante em Porto Alegre. Seria uma conjunção de partidos pequenos, sem afinidade política e sem peso eleitoral. Manuela, que é deputada federal, mesmo já tendo sido derrotada em campanha à prefeitura, alimentaria e aumentaria o eleitorado que a reconduziria à Câmara Federal, mas dificilmente venceria a disputa pelo Paço Municipal de Porto Alegre.
Restaria, ainda, a possibilidade de o PMDB apresentar candidatura própria ou se agregar à chapa de Manuela, compondo com o PCdoB e do PSB uma nova aliança. Sozinho, as chances eleitorais peemebistas seriam mínimas em Porto Alegre. Na capital, o PMDB nunca teve grande força eleitoral. A eleição de Fogaça contou com o apoio do PP e para sua reeleição foi fundamental a inclusão do PDT na aliança. Aliado com o PCdoB e com o PSB e agregando também o PP e o PTB, o PMDB renovaria suas chances eleitorais em Porto Alegre, mas continuaria desempenhando papel secundário na articulação e em um possível governo.
Muita água há de rolar ainda, portanto, até que o quadro eleitoral em Porto Alegre se delineie com maior clareza. Tem sentido, no entanto, a declaração de Carlos Lupi, no 5º Congresso do PDT, de que já enfrentou coisas mais difíceis do que a costura de uma eventual aliança PDT/PMDB/PT. As chances de ela vir acontecer, ainda que remotas, existem.
sul21.com
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