Por Joseane Reis Duarte
A música gaúcha é originária da mistura cultural dos povos que aqui viviam nos anos de "constituição" do Rio Grande do Sul.
A partir de 1600, os portugueses iniciam as mesclas, que nascia com a música do período renascentista, cruzado com o índio brasileiro e o negro africano. Mas foi através dos missionários portugueses e bandeirantes que começa a destacar-se a formação do que viria a ser o estilo gaúcho.
A chegada das missões jesuíticas (que formariam os Sete Povos das Missões), da música barroca e renascentista, vinda com os colonizadores, e a música dos índios estavam criando as condições para temperar nossa cultura, tendo um impulso de finalização com a fundação da Colônia do Sacramento, instituindo uma nova cultura regional.
No início, a música trazida pelos colonizadores portugueses possuía um estilo medieval, até pelo afastamento das cortes de Portugal, tendo uma maior simplicidade harmônica, melódica e rítmica em seu começo.
Por volta de 1700, tínhamos no litoral da Província de São Pedro, os luso-brasileiros, já mesclados, portugueses e negros. No interior, havia os estancieiros e militares que protegiam a Colônia, os índios, as missões e os espanhóis, na disputa pela terra.
Essa foi a condição sui generis para a história da nossa música, pois deu ao Rio Grande do Sul a condição de tornar diferenciada sua música, dentro do território brasileiro.
Aparecem os instrumentos musicais...
Os instrumentos que apareceram na província, primeiramente, foram as guitarras, trazidos de Portugal, aparecendo no litoral. Os tambores acompanhavam o canto saudoso das duas raças, vindos da África. A rabeca, a viola e a voz de aventureiros e cortesões somavam-se às músicas dos salões trazidos para cá.
Instrumentos de sopro, corda, rústicos órgãos e música espanholas eram encontradas na fronteira oeste da Colônia, formando a música das Missões. Ali, apareciam cantos a cappella, oratórios e missas. Tínhamos também a música dos negros trazidos para a Bacia do Prata, em 1680, e as danças de Salão européias, trazidas pelos colonizadores e renovadas pelos visitantes que chegavam com as novidades das grandes cidades.
BOX:
Então, tínhamos por volta de 1750, uma futura formação do estilo musical gaúcho:
- música dos índios (pampeanos/guaranis/gês)
- música dos luso-brasileiros (bandeirantes/lagunenses)
- música dos jesuítas (missões espanholas)
- música dos negros (angola/benguela/congos)
- música dos espanhóis (territórios limítrofes)
As canções de ninar e as cantigas infantis tiveram sua destacada influência, uma vez que a mãe transmitiu ao filho a sua origem musical, e este aprendeu do pai ou ouviu na infância outras canções.
Estilo Gaúcho
O estilo gaúcho nasceu do folclore e começou a ser usado na música popular ou erudita, com seus acentos diferenciais. Pode-se dizer que as formas mais usadas, seja na melodia, na harmonia, no ritmo, na forma ou na tessitura são a Trova, o Bugio, a Rancheira, a Toada, os Chotes, a Milonga, a Valsa Campeira, a Polca limpa-banco, Vanerão e Rasqueado.
Trova - De origem portuguesa, seu conteúdo folclórico, tanto na música como na poesia, reflete a simplicidade espontânea do campeiro. É desafio, repente, improviso ou trova.
Bugio - Descende no Iundu e no Maxixe, devido a sua métrica e seu acento no primeiro tempo. Gênero muito mais instrumental que vocal, onde tenta imitar o ronco do bugio, através do som baixo das gaitas e acordeões.
Rancheira - Descende da Mazurca e da contradança européia. É o gênero mais gaúcho dentro da música brasileira, por não se encontrar similar em outros estados.
Toada - Representa o andar lento das carretas, da solidão do campeiro, da imensa planície pampeana, da saudade da querência. Sua métrica e caráter afirmam sua descendência portuguesa.
Chotes - É um dos gêneros mais tocados e cantados no Rio Grande do Sul, originado da "schottisch" européia, apresentando a alegria dos gaiteiros, salão cheio nos "kerbs" e fandangos.
Milonga - É encontrada no Brasil, Argentina e Uruguai. Viva, quando dançada, e lenta, sonhadora, quando apresentada para ambientação de declamação (payada). Descende da habanera/Iundu com traços fortes da influência negro/hispânica. A característica mais marcante está no baixo ou bordões do violão.
Valsa Campeira - Originada do "ländler" austríaco/alemão. Espalhou-se pelos salões europeus e depois por todos os continentes, simbolizando alegria e liberdade no compasso ternário, um compasso perfeito.
Polca Limpa-Banco - Viva, alegre, dançante são suas principais características e, quando executada, ninguém fica nos bancos. Sua origem é checo/alemã e passou a ser gaúcha quando assimilou os acentos nos tempos fracos, no cruzamento com o crioulo gaúcho, provavelmente nas festas juninas, kerbs, onde as quadrilhas são marcadas ao compasso das polcas. A polca deve ser lenta e saltitante, tanto na execução dos instrumentos como na dança.
Vanerão - Tem sua origem na habanera cubana, porém, com o andamento mais vivo. O vanerão, assim como o maxixe, tiveram suas origens na música negra e influenciada pela polca, traçando sua característica alegre e dançante.
Rasqueado - É da família do chamamé e da polca paraguaia. Ele aparece na música pampeana com um sentido genérico de melodias acompanhadas por violão ou guitarra em diversos andamentos e compassos. Neologismo de rasgueto, rasgado; modo de tocar violão arrastando as unhas nas cordas, sem pontear.
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