Jornal do Brasil 27/07/2012 Mauro Santayana
A verdade, diz um provérbio berbere, é como o camelo: tem duas orelhas. Você pode agarrá-la como lhe for mais conveniente, pela direita ou pela esquerda. Essa parece ser a postura do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, que prefere a direita. Para quem conheceu o jovem Serra de há quase 50 anos, é um desconsolo descobrir o que o tempo faz aos homens. Não só, como no poema de Drummond, ao abater com sua mão pesada, cobra os anos com “rugas, dentes, calva”, mas também costuma sulcar erosões nas ideias.
José Serra quer calar os blogueiros sujos, e usou o seu partido para isso. Dois nomes são mencionados, Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif. Não preciso expressar a minha solidariedade aos atingidos. O que está em questão — e os dois estarão de acordo com o raciocínio — é muito maior do que eles mesmos e todos os outros franco-atiradores da internet. O problema real são os limites que querem impor à democracia.
(O texto continua)
Disponível em:http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2012/07/27/serra-e-a-democracia-de-duas-orelhas/ oCarancho#
"Pesadelo"
ResponderExcluirPreste atenção nos arranjos instrumental e vocal, perfeitamente integrados à letra, ao sentido da letra
"Quando um muro separa, uma ponte une / (...) Você vem me agarra / Alguém vem me solta / (...) E se a força é tua ela um dia é nossa / (...) Olha o muro, olha a ponte, olha o dia de ontem chegando / Que medo você tem de nós, olha aí / Você corta um verso, eu escrevo outro / Você me prende vivo, eu escapo morto / De repente olha eu de novo / (...) O muro caiu, olha a ponte / Da liberdade guardiã / O braço do Cristo, horizonte / Abraça o dia de amanhã / Olha aí / Olha aí / Olha aí."
Os mais jovens talvez não conheçam a canção da qual fazem parte os versos supracitados. Trata-se de "Pesadelo" (melodia do saudoso Maurício Tapajós e letra do grande Paulo César Pinheiro), gravada pelo maravilhoso MPB4 no antológico disco "Cicatrizes". Corria o ano de 1972. Com as garras afiadas, a ditadura militar proibia o que viesse pela frente. Quase fui expulso do colégio porque ousei colocar no mural da escola uma matéria jornalística em que se falava de poluição -especificamente da que havia na cidade paulista de Cubatão. "O senhor é subversivo?", perguntou-me o diretor do colégio estadual MMDC, na Mooca.
Para tentar driblar a censura militar, Paulo César Pinheiro mandou a letra de "Pesadelo" para a censura no meio de uma infindável coleção de letrinhas bobocas de outros autores da gravadora. Dito e feito. O censor deve ter-se enjoado de ler baboseiras e foi logo carimbando "Aprovado" em tudo. E assim "Pesadelo" ganhou seu "alvará".
Corajosos, os integrantes do MPB4 incluíram a canção no LP "Cicatrizes", hoje um clássico da nossa música. Se puder ouvir a gravação original (de preferência a original, de estúdio), preste atenção na grandiosidade dos arranjos instrumental e vocal, perfeitamente integrados à letra, ao sentido da letra. A repetição do verso "Olha aí" e o modo de entoá-lo, por exemplo, traduzem com fidelidade o que era viver sob a eterna sombra de um fantasma, um pesadelo.
Dos versos de "Pesadelo", o que mais nos marcava era este: "Você me prende vivo, eu escapo morto". Dotado de fortes matizes do realismo fantástico ou mágico, o verso traduz com a mais extrema fidelidade o que acontecia nos porões do regime então vigente.
Em tempos cada vez mais insossos como os de hoje, em que muitas vezes (quase sempre) por falta de repertório, de lastro, de conhecimento histórico, poucas, pouquíssimas pessoas (mesmo letradas) conseguem compreender um miserável parágrafo de um texto informativo ou uma metáfora, uma ironia, chega a ser um sonho a possibilidade de que se entendam com profundidade peças em que estão presentes traços da multilinguagem, caso da antológica gravação de "Pesadelo", do MPB4, em que a melodia, a letra e os arranjos vocal e instrumental se fundem para transmitir uma mensagem forte, contundente, marcante.
Pois os arranjos que citei são de Antônio José Waghabi Filho, o Magro, do MPB4, o mesmo que criou outro clássico, o antológico e impressionante arranjo vocal de "Roda Viva", de Chico Buarque, do inesquecível festival de 1967. Magro nos deixou ontem. Foi para o céu, cantar e fazer arranjos para os anjos e os deuses da música, da beleza. É isso.
PASQUALE CIPRO NETO EM http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/59628-quotpesadeloquot.shtml
Chico Buarque e o MPB4 são tudo de bom.
ExcluirE tudo do melhor.
Se formos tentar fazer alguma comparação com o que rola por aí, então?
É como comparar uma minhoca com um rinoceronte.
Gostei desta de um blog:
ResponderExcluirA quem interessar possa:
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