Em 28 de dezembro de 2010, lá onde Recife começa, bem no Marco Zero, enquanto LULA falava, veio num “flash back” uma cascata de pensamentos e lembranças, de tantas pessoas, casos e fatos, todos embalados por sonhos.
...Enquanto LULA falava, rodou o “tape” de mais de 30 anos, desde os primeiros tempos quando LULA aqui chegava, lá íamos nós, num “fusca” ou numa “brasília” buscá-lo no Aeroporto, acomodá-lo na casa de algum de nós e preparar a agenda para começar a maratona: plenárias, visitas a porta de fábricas, uma entrevista de rádio ou jornal, muitas vezes conseguida a muito custo, além de grandes discussões sobre o rumo da política, do partido, do socialismo e das tarefas imediatas, mediatas e mais de fundo.
...Enquanto LULA falava, as lembranças das dificuldades dos tempos das “vacas magras”, ou melhor, tempo que nem “vaca” tinha! Tempos duros e secos, da pequena porém aguerrida militância, tempos dos sindicalistas da oposição, de confronto nas campanhas salariais, tempos da ideia da CUT e dos embates sobre a estrutura sindical na luta contra ditadura, em busca de espaços democráticos, tempos de construção da consciência de classe e de organização do “mundo do trabalho”.
...Enquanto LULA falava, das derrotas de 1989, 1994 e 1998, lembrava das dificuldades do começo dos anos 1980, onde fizemos o aprendizado doloroso do encontro do mundo dos nossos sonhos e a realidade da vida real, o desemprego, a crise econômica e a desagregação social e política do povo. Ali tivemos nosso batismo de fogo ao propor a criação de um instrumento de luta, organização política, cultural e identidade de classe, conforme inscrito nos textos fundadores do programa do PT. Romper de um lado a repressão, a censura e a burocracia do estado fascista; do outro, a resistência de setores da esquerda que nos viam com desconfiança, disputando espaços, e ainda, por outro lado a descrença e o desinteresse pela ação política do povo!
...Enquanto LULA falava, lembrei de Manoel da Conceição, nosso companheiro camponês das bandas de Mearim, com quem fizemos caminhadas pelo Interior do Estado, buscando organizar o povo da terra no PT, plantando a semente no solo daqueles anos quentes. Nas greves dos canavieiros, na luta dos eletricitários, dos atingidos por barragens, dos sem-terra, do operariado se organizando, na luta dos sem-teto, na luta por saúde e educação, na luta contra a carestia, na denúncia da repressão, da tortura aos presos políticos, no conjunto das lutas que foram o caldo criador do PT no Brasil dos anos 1980.
...Enquanto LULA falava lembrei da iniciação difícil dos embates eleitorais, na negação do colégio eleitoral, nos gestos quixotescos porém simbólicos, para os passos seguintes que daríamos. Nas derrotas, o aprendizado, o choque na idealização e a musculatura que fomos adquirindo com vitórias que foram acontecendo, nos tornando mais ousados, cativantes e atrevidos. Até batermos de cara com o primeiro e grande teste do PT. A disputa de 1989; dali para frente a política no Brasil nunca mais foi a mesma! O Brasil descobriu LULA e o PT na cena política, estava por fim transposto o cabo das tormentas, foi conquistado o cabo da Boa Esperança, A sorte estava lançada, mesmo perdendo a eleição de 1989, cravamos definitivamente uma estaca no terreno desconhecido, quebramos os arames da cerca política e invadimos a praia do debate nacional.
... Enquanto LULA falava, salto no tempo e outra vez miro a multidão no Marco Zero, choros e risos se misturaram, Lula fecha os seus oito anos de governo e nós, do PT, temos um sentimento de missão cumprida! Fechamos um 1° ciclo de 30 anos da era LULA. Agora, o governo do Brasil está sob comando de uma mulher, sobre os seus ombros as asas firmes das conquistas atingidas no governo LULA, sobre os seus ombros o peso da responsabilidade de continuar a rota do sucesso, de avanços políticos, econômicos, sociais e culturais da era LULA-PT, que transformaram o BRASIL na grande e respeitada Nação.
...Enquanto LULA falava, lembrei de gerações de militantes que fizeram este chão com LULA, muitos continuam o caminho e outros que transformados em estrelas a seu modo, brilham e alumiam o caminho que se continua a fazer. É por tudo isso que nossa fé resiste e não caímos. Sentimos dores, erramos, mas ainda não perdemos o sentimento do sonho. E continuamos SEM MEDO DE SER FELIZ.... enquanto LULA falava, senti que aconteceu uma revolução e a gente quase não se deu conta...!!!
Fernando Ferro é deputado Federal e líder da Bancada do PT na Câmara Federal.
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