sexta-feira, 22 de junho de 2012

O carancho.


Tide, como historiador, diplomado em História, imagino que também tenhas um gosto especial por Filosofia, bases norteadoras da Política. Reunindo informações da minha memória, aqui e acolá, tentarei expor algumas ideias, fazendo ponderações cansativas que para alguns muitos são apenas baboseiras, mas que são, sim, partes da verdade. É apenas a minha parte, onde exponho ideias, sempre permeáveis às verdades de outrem, se assim estiverem dispostos.

Em política, a criação do atual modelo de Estado, por informações noticiosas, ocorreu na Inglaterra do século XIII. Depois de violentas manifestações públicas, muitas lutas, muitas mortes, o rei João 'Pequeno', foi forçado a atender anseios populares, limitando parte de seus poderes divinos para manter-se no trono. Teve de ceder de sua árdua tarefa, incumbida por Deus e intermediada pela Igreja. O povo insurgia-se contra a exploração do trabalho escravo e do contínuo aumento dos tributos. Trabalhava de sol a sol, nas terras dos nobres, para retirar para si e para a sua família o suado alimento. Como os nobres conquistaram estas terras? Bom, aí já é uma outra longa e interminável história. Conhecida pela História e, por ora, não cabe sua recordação. A maior parte do que os camponeses produziam e conseguiam retirar das plantações tinha de ser entregue sob forma de imposto (que, como o próprio nome diz, eram impostos, à força, pelos nobres, utilizando-se dos seus soldados). Os tributos, à pretexto de custear as guerras, sustentavam os exércitos mas também a riqueza e o luxo dos nobres e a sua nababesca Côrte.
A política contemporânea começou a ganhar força com as ideias surgidas no movimento filosófico denominado “iluminista”: a implementação destas ideias deveriam 'iluminar' os séculos das trevas, da Idade Média, do obscurantismo. Montesquieu, na sua famosa obra 'Do espírito das leis' defendia, dentre outras, a ideia de dividir-se o Estado em 3 Poderes independentes que mutuamente controlar-se-iam e complementar-se-iam: os Poderes Legislativos, Executivos e judiciário. O abade Syéves, através do seu trabalho 'O que é o 3º Estado', difundiu a ideia de que o modelo vigente de representação política, era, além de injusto, anticristão pois predominavam os poderes da Côrte e da Igreja. Que a Igreja deveria participar politicamente, sim, mas não em desfavor do povo. Ao contrário, deveria aliar-se ao povo e atuar em sua defesa. Que as dádivas prometidas ao povo, para após a morte, fossem gozadas aqui mesmo, na terra. Aqui e agora. Nunca depois da morte, como até então se apregoava. O marco maior das ideias iluministas foi a Revolução Francesa com a vitória popular e a derrota da monarquia absolutista. Os poderes do Estado substituindo os poderes divinos do Rei, da família real, da nobreza e da Igreja. A ideia era a de limitar os poderes reais substituindo-o por uma participação efetiva das classes dominadas na administração dos recursos arrecadados e sustentado por todos. Dizia-se: “Dividir para reinar!”, conformavam-se os poderosos: “Vão-se os anéis. Ficam os dedos!”
Eu disse que os tributos eram pagos por todos???
Engano! Corrijo. Membros da Côrte e da Igreja não pagavam tributos, apenas beneficiavam-se deles. Tinham a “dura” incumbência divina de usufruir das suas benesses. Como pagamento à sua dedicação em prol da administração pública.
Vida dura, não é? Mas fazer o que? Era tudo para o nosso bem! Para ajudar o povo, a pobreza, que além de não entender o latim episcopal das missas, não possuía os conhecimentos necessários para atuar e administrar politicamente. Claro, não era interessante às elites, como nunca foi, a instrução e a atuação popular.
O Carancho# (Sobre Política – Parte VI) 

Um comentário :

  1. Bom, já que abristes espaço para o meu discurso, vou aproveitar a brecha e acabar o raciocínio!
    Imagino o que os poderosos deveriam dizer, à época: fui escolhido pelos céus para trabalhar exclusivamente em defesa dos teus interesses. É para o teu próprio bem! Afinal tu não tens conhecimento, não tens experiência administrativa, não tens estudos, não tens a educação adequada das melhores escolas, das melhores universidades, dos melhores professores. Não tens berço nem sangue azul. E por aí vai. Qualquer semelhança com os dias de hoje, não é mera coincidência.
    Será que mudou muita coisa de lá, para cá? Bom, mudou quem escolhe, quem indica (popularizado pela expressão QI). Mudaram os acordos, as coligações.
    Antes a escolha era feita pelos reis e pelos céus (o céu, no singular, seu idiota, diriam os astrônomos e seus aprendizes. Existe apenas um céu!!). Hoje, ela (a escolha), é feita pelos partidos políticos (algumas - bastante vezes – a escolha é imposta monocraticamente, pelo próprio candidato, em nome do partido, pois o 'partido', é ele mesmo, pessoa física).

    Lembremo-nos que até então a ideia que a Igreja transmitia era a de que o homem, enquanto vivesse na terra, sofreria todas as agruras possíveis e inimagináveis, todo tipo de necessidade material, mas que, conformando-se e agradecendo aos reis e à Igreja, encontraria, para si e para a sua família, depois de morto, no reino dos céus, a sua recompensa por todos os seus infortúnios e sofrimentos terrestres. Teria a igualdade e a sua justa retribuição na companhia de querubins e de todos os homens de bem – o paraíso celeste. Não se preocupasse, acaso não houvesse cumprido fielmente e de forma cordata todos os ensinamentos que lhe foram transmitidos. Haveria um patamar intermediário a lhe aliviar as penas – o purgatório! Afinal, tem gente que não se emenda mesmo. Não adianta reguadas, tapas, castigos, coques e beliscões. Tem gente que só dando com um gato morto na cabeça.
    São pessimistas, destrutivos e só veem o lado ruim das coisas. Tudo tem o seu lado bom. Pena que este lado bom não sobre pra nós. Só para os mesmos, os de sempre!
    Ocarancho# (Reminiscências Políticas – Parte VII)

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