Anselmo Massad/ Rede Brasil Atual
A ex-senadora Marina Silva (PV-AC) pediu, em artigo-manifesto divulgado nesta quinta-feira (24), mais democracia interna em seu partido. Candidata terceira colocada na eleição presidencial de 2010 com 19 milhões de votos, ela critica ainda o que considera uma descontinuidade de um compromisso assumido pela executiva da legenda com a própria Marina, antes de sua transferência do PT para o PV. Apesar de enxergar os Verdes, neste momento, em uma “zona sombria”, Marina afirma querer permanecer na agremiação.
A divulgação do artigo ocorre horas antes de uma coletiva de imprensa convocada por Marina junto a outras lideranças para lançar a tendência Transição Democrática no PV. O grupo defende que a legenda seja mais aberta aos filiados, diferentemente do que ocorre atualmente, com “apenas meia dúzia de dirigentes” controlando as decisões.
“Estou no PV não como plataforma para candidaturas”, sustenta. “Reafirmo meu desejo de permanecer neste Partido Verde, contribuindo para o seu crescimento e qualidade política”, esclarece. Ainda assim, ela não poupa a atual direção de críticas. Segundo a CartaCapital, a criação de uma tendência dentro da legenda foi interpretada como o possível início de um novo partido, na esteira do PSD de Gilberto Kassab.
Em reunião da direção do partido, no dia 17, o deputado federal José Luiz de França Penna, presidente da legenda, conseguiu aprovar a prorrogação de seu mandato por um ano. A decisão barra o processo de convocação de eleições internas. A justificativa é que são necessárias discussões e seminários para traçar os caminhos a seguir. O episódio foi qualificado de “pesadelo verde” pelo deputado federal e secretário geral do PV, Alfredo Sirkis. Por isso, o destino da sigla divide suas principais lideranças.
“Parecia natural que o caminho adotado na reunião da executiva nacional, em Brasília, fosse o da adoção inconteste do novo jeito de fazer política (defendido durante a eleição presidencial)”, escreve Marina. “Mas essa não foi a tônica. Ao contrário, a decisão da executiva nacional de ampliar seu mandato por até um ano e, assim, postergar qualquer mudança endógena imediata, vai na contramão do que foi dito na campanha e do compromisso feito perante o país”, criticou.
Segundo a ex-senadora, a maior parte das executivas estaduais e todas as instâncias municipais são formadas por indicação e não pelo voto, além de ter caráter provisório. “Praticamente não há convenções municipais e estaduais ou eleições diretas de dirigentes. Esses mecanismos provisórios têm sido vistos como forma de proteger o partido de atitudes oportunistas e da pressão do poder econômico. Agora, eles nos isolam da sociedade, nos fragilizam no que pode nos tornar mais fortes que é a nossa coerência e não nos protegem nem de nós mesmos”, analisa.
“Estamos discutindo (…) a promessa de reestruturar o PV e, a partir de sua democracia interna, sua postura e seu programa, arejar a cultura política brasileira e apresentar propostas de desenvolvimento compatíveis com o que se espera no futuro, no século XXI”, propõe. “Hoje, não há outro assunto mais importante do que esse, porque ainda não nos acertamos, nos detalhes, para seguir nessa direção. E se não é esta a direção, estaremos nos desconstituindo enquanto promessa e negando a própria gênese do PV no mundo”, desafia.
Ela defende a abertura do PV à “energia revitalizante que vem da sociedade”. Marina atribui aos próprios membros da executiva do partido a proposta de renovação ainda em 2009, um dos aspectos mais importantes para assegurar a decisão de se transferir do PT, onde tinha militância histórica. “Ouvi do próprio presidente que a atualização programática e democratização do PV já eram um movimento em curso, uma determinação da própria direção e, acrescento agora, uma imposição da realidade, um desaguadouro natural dos 25 anos de Partido Verde no Brasil”, relembra.
“O que está em jogo é se o PV vai fortalecer tudo de positivo que foi construído nesses 25 anos, afastando de vez a zona sombria que ainda envolve o partido”, defende. O que está em jogo é aproveitar o “impulso criativo” de pessoas que “voltam a se apaixonar pela política” e “pegar a trilha civilizatória” para buscar “um futuro melhor para a humanidade e para o planeta”.
Transição democrática
O grupo que acompanha Marina no lançamento da tendência é integrado por figuras expressivas. Os mais conhecidos são os deputados federais Alfredo Sirkis (RJ) e Roberto Santiago (SP), os estaduais Beto Tricoli (SP) e Aspásia Camargo (RJ), o presidente do partido em São Paulo, Maurício Brusadim, os ex-candidatos a governos estaduais Sérgio Xavier (Pernambuco) e José Fernando Aparecido (Minas Gerais) e o ex-candidato ao Senado por São Paulo, Ricardo Young.
Nomes como Fernando Gabeira (RJ), segundo colocado na disputa do governo fluminense, compõem outros blocos. Já o deptuado federal José Sarney Filho (MA) está com Penna no grupo que controla o PV.
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