Do fim para o começo.
Por Cecilia Luedemann
Estamos em junho de 1871, entre as ruínas de Paris destruída pela guerra civil. As burguesias francesa e prussiana lutaram contra os trabalhadores na Comuna de Paris. Vivemos, ainda, o terror da “Semana Sangrenta”.
Sob o comando de Thiers, o Exército de Versalhes ordenou o massacre dos trabalhadores que ousaram tomar o poder.
O castigo da burguesia contra os revolucionários é brutal: 3 mil mortos em combate, 17 mil executados e 40 mil presos
Dos 13.450 condenados pela justiça, 270 são executados, 410 são enviados para campos em trabalhos forçados, 3.989 à deportação em prisões e 3.707 para deportação em liberdade.
Lá, entre as prisioneiras, está Louise Michel, como podemos ver no lado direito, em pé, de braços cruzados. Seu rosto é um dos mais conhecidos em todo o mundo, como lutadora do povo. Você deve ter visto Louise em algum lugar, nas manifestações camponesas, nas greves operárias. Olá, Louise. Quantas saudades temos de você, companheira professora e daqueles dias gloriosos da Comuna.
Outras mulheres, como Louise, também participaram, como “queroseneiras” nas barricadas...
... como oradoras...
... ou como merendeiras.
Na Comuna de Paris, todos nós comandávamos, mulheres e homens. Éramos os communards, descrito pelo escritor Robinet como “os espíritos mais ativos, mais inteligentes e mais enérgicos da Associação Internacional dos Trabalhadores, profundamente honestos, sinceros, inteligentes, puros e devotados.”
Organizamos nosso trabalho e lutamos por nossos direitos, organizados em sindicatos. Todos. Homens e Mulheres.
A Comuna de Paris estava junto com a Associação Internacional do Trabalho e juntos reivindicamos:
“A organização do crédito, do comércio, da associação, a fim de assegurar ao trabalhador o valor integral de seu trabalho; a instrução gratuita, laica e integral; o direito de reunião e de associação, a liberdade absoluta de imprensa, a do cidadão; a organização do ponto de vista municipal dos serviços de polícia, força armada, limpeza, estatística etc.”
“A organização do crédito, do comércio, da associação, a fim de assegurar ao trabalhador o valor integral de seu trabalho; a instrução gratuita, laica e integral; o direito de reunião e de associação, a liberdade absoluta de imprensa, a do cidadão; a organização do ponto de vista municipal dos serviços de polícia, força armada, limpeza, estatística etc.”
Todos estávamos lá, nas barricadas, organizados, lutando. Como nos versos de Brecht, Os dias da Comuna, encontramos a solução de todos os nossos problemas:
“Escravo, quem vai te libertar?
Aqueles que estão no fundo mais fundo,
Camarada, vão te ver.
E ouvirão o teu grito: Os escravos vão te libertar”
“Escravo, quem vai te libertar?
Aqueles que estão no fundo mais fundo,
Camarada, vão te ver.
E ouvirão o teu grito: Os escravos vão te libertar”
“Faminto, quem vai te alimentar?
Se quiseres um pedaço de pão
Junta-te a nós, nós que temos fome
Deixe que te mostremos o caminho:
Os que têm fome vão te alimentar.”
Se quiseres um pedaço de pão
Junta-te a nós, nós que temos fome
Deixe que te mostremos o caminho:
Os que têm fome vão te alimentar.”
Ilya Ehrenbourg narra no conto Os três cachimbos a fúria da burguesia que decidiu destruir Paris para não entregá-la aos trabalhadores: “Mas os janotas e as mulheres despreocupadas que abandonaram Paris não podiam esquecer a mais formosa das cidades, não queriam entregá-la aos operários, pedreiros, carpinteiros e ferreiros, e começavam a destruir as casas com as balas dos canhões. Agora essas balas já não eram mandadas pelos pérfidos prussianos, e sim pelos bons visitantes da ‘Confeitaria Inglesa’ e outras.”
Os dias da Comuna, de março a maio de 1871, ficaram marcados nos dias da classe trabalhadora, nas palavras de Brecht:
“Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.”
“Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
Sozinho ninguém pode se salvar.
Fuzis ou correntes.
Ninguém ou todos. Tudo ou nada.”
E estivemos juntos nas assembleias, nos debates, nas deliberações.
E decidimos juntos pela construção do poder proletário. Organizados e armados, na Guarda Nacional, dirigimos Paris quando o governo de Thiers fugiu para Versalhes. A Prefeitura foi tomada e todas as decisões administrativas e militares estavam conosco. Fizemos nossas eleições em 26 de março e elegemos um Comitê Central para defender: “a manutenção da República como governo, um conselho comunal eleito, a eliminação da chefatura de polícia e do exército permanente e o direito de vós, Guarda Nacional ser a única a assegurar a ordem em Paris. O direito de nomear todos os nossos chefes.”
Como nos conta Engels, na introdução do livro de Marx, A Guerra Civil na França,
Os integrantes da Comuna de Paris se dividiam em uma maioria de blanquistas e uma minoria de prodhonianos.
Os blanquistas eram seguidores de Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), o revolucionário francês, organizador de sociedades secretas e de conspirações, participante das revoluções de 1830 e 1848, dirigente do movimento proletário francês perseguido e preso várias vezes pela repressão. Nosso Che Guevara da Comuna de Paris, como diria o historiador Osvaldo Coggiola. Os blanquistas predominavam também no Comitê Central da Guarda Nacional.
Os blanquistas eram seguidores de Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), o revolucionário francês, organizador de sociedades secretas e de conspirações, participante das revoluções de 1830 e 1848, dirigente do movimento proletário francês perseguido e preso várias vezes pela repressão. Nosso Che Guevara da Comuna de Paris, como diria o historiador Osvaldo Coggiola. Os blanquistas predominavam também no Comitê Central da Guarda Nacional.
A minoria da Comuna, os proudonianos, era formada pelos membros da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), seguidores do socialismo de Pierre-Joseph Proudhon.
Mas, nem Blanqui nem Proudhon imaginaram que a defesa de Paris pelo povo armado, contra os prussianos, pudesse se transformar tão rápido e intensamente na revolução armada dos trabalhadores franceses contra a opressão dos capitalistas e do Estado francês.
Qual a lição que tiramos dessa experiência de três meses da revolução proletária em Paris? A ingenuidade frente à compreensão do papel do Estado foi um dos problemas para se conquistar, definitivamente, a vitória da revolução proletária na França.
Engels analisa essa “veneração supersticiosa do Estado” e a crença na destruição da monarquia e na defesa da república democrática”:
“Mas, na realidade, o Estado não é outra coisa senão uma máquina para a opressão de uma classe por uma outra e, de fato, na república democrática não menos do que na monarquia; no melhor dos casos, um mal que é legado ao proletariado vitorioso na luta pela dominação de classe e cujos piores aspectos ele não poderá deixar de cortar imediatamente o mais possível, tal como no caso da Comuna, até que uma geração crescida em novas, em livres condições sociais, se torne capaz de se desfazer de todos o lixo do Estado. O filisteu social-democrata caiu recentemente, outra vez, em salutar terror, à palavra: ditadura do proletariado. Ora bem, senhores, quereis saber que rosto tem esta ditadura? Olhai para a Comuna de Paris. Era a ditadura do proletariado.”
“Mas, na realidade, o Estado não é outra coisa senão uma máquina para a opressão de uma classe por uma outra e, de fato, na república democrática não menos do que na monarquia; no melhor dos casos, um mal que é legado ao proletariado vitorioso na luta pela dominação de classe e cujos piores aspectos ele não poderá deixar de cortar imediatamente o mais possível, tal como no caso da Comuna, até que uma geração crescida em novas, em livres condições sociais, se torne capaz de se desfazer de todos o lixo do Estado. O filisteu social-democrata caiu recentemente, outra vez, em salutar terror, à palavra: ditadura do proletariado. Ora bem, senhores, quereis saber que rosto tem esta ditadura? Olhai para a Comuna de Paris. Era a ditadura do proletariado.”
Marx explica, em A Guerra Civil na França, o sentido da Comuna de Paris, primeira experiência para a conquista de uma sociedade socialista:
“A Paris operária com a sua Comuna será sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova sociedade. Os seus mártires estão guardados como relíquia no grande coração da classe operária. E aos seus exterminadores, já a história os amarrou àquele pelourinho eterno donde todas as orações dos seus padres os não conseguirão redimir.”
“A Paris operária com a sua Comuna será sempre celebrada como o arauto glorioso de uma nova sociedade. Os seus mártires estão guardados como relíquia no grande coração da classe operária. E aos seus exterminadores, já a história os amarrou àquele pelourinho eterno donde todas as orações dos seus padres os não conseguirão redimir.”
E, depois de tudo, Brecht nos deixa a tarefa:
“Quem, vencido, quem te vingará?
Tu, que foste golpeado
Junta-te às fileiras dos feridos
Nós em todas nossas fraquezas,
Camarada, vamos te vingar.”
“Quem, vencido, quem te vingará?
Tu, que foste golpeado
Junta-te às fileiras dos feridos
Nós em todas nossas fraquezas,
Camarada, vamos te vingar.”
Jules Vallès, escritor e jornalista, um dos communards, escreve com esperança sobre o renascimento da Comuna:
“Eles creem que a enterraram, amortalhada em uma camisa de federado. Ela ressuscita, e aí está, renascendo em meio a coroas e flores. Nós que fomos da grande revolta, nós, os sobreviventes da tempestade, nós estaremos lá – os filhos ou as viúvas daqueles que morreram também estarão! (...) Prisioneiros do capital, dele escapados durante três meses, arma em punho, haviam mantido toda sociedade em cheque até onde seus fuzis alcançassem.”
Nesses 140 anos, sempre juntos, nós, os sobreviventes da tempestade, aqui estamos para homenagear os heróis da Comuna de Paris, com uma rosa vermelha em seu túmulo...
Nesses 140 anos, sempre juntos, nós, os sobreviventes da tempestade, aqui estamos para homenagear os heróis da Comuna de Paris, com uma rosa vermelha em seu túmulo...
... e com manifestações vermelhas...
... e rebeliões de trabalhadores em todo o mundo. Viva a Comuna de Paris !
>> Fontes:
ACHCAR, Gilbert. A Comuna de Paris. In: LÖWY, Michael (org.)- Revoluções. São Paulo : Boitempo, 2009.
BRECHT, Bertolt. Os dias da Comuna. (Vol. 10) In: Teatro completo em 12 volumes. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1993.
EHRENBOURG, Ilia. Os três cachimbos. In: Maravilhas do Conto Russo. São Paulo: Cultrix, 1958.
LÖWY, Michael (org.)- Revoluções. São Paulo : Boitempo, 2009.
MARX, Karl. A guerra civil em França. Lisboa : Avante, 1983.
MARX, Karl. A guerra civil na França. São Paulo : Boitempo, 2011.
MARX, Karl. A Revolução antes da revolução (As lutas de classes na França (1848-1950). O 18 Brumário de Luis Bonaparte. A guerra civil na França.)
VALLÈS, Jules et alii. Crônicas da Comuna. São Paulo: Ensaio, 1992.
WATKINS, Peter. La Comunne Paris – 1871. (Filme/2000)
>> Sites
Bibliotèque Historique de La Ville de Paris
Bibliotèque de l’université de northwestern
WWW.marie20.paris.fr Les amis de La Commune
Lacomune.perso.neuf.fr
Association d’la histoire et d’archéologie Du Vingtième
From: International Publishers, International Pamphlets No. 12, sponsored by the John Reed Club, an organization of revolutionary writers and artists in New York. Third edition, 1934.
http://dwardmac.pitzer.edu/anarchist_archives/pariscommune/pcgraphics.html
ACHCAR, Gilbert. A Comuna de Paris. In: LÖWY, Michael (org.)- Revoluções. São Paulo : Boitempo, 2009.
BRECHT, Bertolt. Os dias da Comuna. (Vol. 10) In: Teatro completo em 12 volumes. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1993.
EHRENBOURG, Ilia. Os três cachimbos. In: Maravilhas do Conto Russo. São Paulo: Cultrix, 1958.
LÖWY, Michael (org.)- Revoluções. São Paulo : Boitempo, 2009.
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MARX, Karl. A guerra civil na França. São Paulo : Boitempo, 2011.
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Bibliotèque de l’université de northwestern
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Association d’la histoire et d’archéologie Du Vingtième
From: International Publishers, International Pamphlets No. 12, sponsored by the John Reed Club, an organization of revolutionary writers and artists in New York. Third edition, 1934.
http://dwardmac.pitzer.edu/anarchist_archives/pariscommune/pcgraphics.html
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