Para além da gentileza, Alckmin sabe que obras importantes de sua administração, como Rodoanel, Ferroanel, Monotrilho do ABC e modernização de portos, dependem de recursos do governo federal. Estado e União partilham também o interesse em desarmar “bombas fiscais” como a PEC 300, que estabelece piso nacional para policiais. A exemplo da equipe econômica de Dilma, o governador já se manifestou contrário à emenda, que a Câmara está louca para votar.
Dilma é cumprimentada por FHC, observada por Alckmin: “A faxina que tem de ser feita é a contra a miséria”
Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff trocou ontem afagos com políticos da oposição, em São Paulo. O encontro de Dilma com os quatro governadores da região Sudeste, para a assinatura de pacto dos Estados com o programa federal Brasil Sem Miséria, tornou-se um evento suprapartidário, com elogios mútuos entre a petista e tucanos.
Dilma foi recepcionada com um abraço de Fernando Henrique ao chegar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e os cumprimentos do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
No evento com os governadores, foi enaltecida várias vezes por Alckmin, que a chamou de “estimada presidente”. O tucano destacou o “patriotismo”, a “generosidade” e o “espírito conciliador” da petista.
O governador paulista continuou com os elogios, ao anunciar a unificação dos programas de transferência de renda Bolsa Família, do governo federal, com o Renda Cidadã, estadual. “A senhora fez um acerto histórico ao aceitar a experiência dos que vieram antes de nós e nos legaram experiências e saberes”, declarou Alckmin, assistido por Fernando Henrique. O tucano citou a “medida provisória inteligente” enviada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso para unificar os programas sociais do governo federal, no início da gestão Lula, em 2003. “Vamos repetir experiências bem sucedidas”, comentou.
Momentos antes, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), tinha exaltado a iniciativa da presidente Dilma de firmar parcerias com os Estados para ampliar o alcance dos programas de combate à miséria. Anastasia disse que os dois governos estão trabalhando. unidos, “de maneira monolítica”.
A presidente retribuiu os afagos e, citou indiretamente FHC, ao lembrar de iniciativas da gestão do tucano voltadas para diminuir a desigualdade social. “Nos últimos anos, homens, e agora mulheres, estão determinados a superar a pobreza extrema no nosso país”, afirmou. Em seguida, disse que estava firmando um “grande pacto republicano e pluripartidário” e agradeceu nominalmente a FHC por sua presença.
“A melhor forma de administrar é buscar o bem de todos os brasileiros. É a construção de um projeto nacional acima dos interesses partidários, que articule os interesses regionais e a dimensão social”, declarou a presidente. “Quanto mais unidos estivermos, mais rapidamente poderemos realizar essa tarefa [de tirar pessoas da miséria]“, afirmou. Dilma reforçou a importância “simbólica” do acordo firmado ontem, com governadores de partidos da base e da oposição. “É o Brasil inteiro em um grande abraço republicano.”
Não foi a primeira vez que Dilma mostrou-se afável à oposição. Há dois meses, no aniversário de 80 anos de FHC, a presidente enviou uma carta elogiosa ao ex-presidente, atribuindo a ele o fim da inflação.
A troca de afagos, no entanto, foi ironizada por petistas, como o prefeito de Osasco, Emídio de Souza. “Não preciso mais defender a presidenta”, brincou. “Me senti sem função”, disse. “Ela tem outro estilo, diferente do Lula, é mais elegante. Esse encontro mostra um avanço na relação [com a oposição]“, afirmou.
No reduto tucano, a presidente lembrou das ações de seu antecessor, o ex-presidente Lula, e citou que na gestão do petista 40 milhões de pessoas ascenderam à classe média. “Essa é a herança bendita que o governo Lula me legou”, disse.
A presidente evitou falar sobre a queda de quatro ministros em seus primeiros oito meses de governo. Disse, contudo, que o governo estava fazendo uma “faxina”, ao citar suas ações no combate à miséria extrema. “É o Brasil inteiro fazendo, de fato – como usa a imprensa -, a verdadeira faxina que este país tem de fazer: a faxina contra a miséria”, declarou.
À noite, durante lançamento do livro “Cultura das Transgressões Culturais no Brasil”, do qual é um dos coordenadores – FHC disse que considera “preocupante” a queda de quatro ministros em menos de oito meses de governo, mas frisou que alguns nomes eram continuação da gestão Lula: “Quase todos vêm do passado, não foram postos agora. É herança.”
À vontade com governadores do PSDB, PMDB e PSB, a presidente assinou acordos que farão com que os Estados da região Sudeste fiquem responsáveis por complementar a renda das famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, de modo que cada pessoa tenha uma renda mensal de, no mínimo, R$ 70. Além dos governadores de São Paulo e de Minas, estavam os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Seis ministros participaram do evento: Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Helena Chagas (Comunicação Social) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), Edson Lobão (Minas e Energia) e Carlos Lupi (Trabalho).
A convite de Alckmin, a presidente almoçou no Palácio dos Bandeirantes com os governadores do Sudeste. Depois, posou para fotos, distribuiu beijos e abraços e fez um coraçãozinho com as mãos para o público que a aguardava.
A presença de Dilma em um evento repleto de tucanos, com direito a salva de palmas e elogios, marca diferença em relação à relação de Alckmin com Lula. Na gestão anterior do governador, Lula não entrou na sede do governo estadual como presidente. Lula, em seu primeiro mandato (2003-2006), só foi ao Bandeirantes em 2006, quando Cláudio Lembo assumiu o governo no lugar de Alckmin, que deixou o cargo para disputar a Presidência contra Lula.
Por Helena
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