Perfil do amor
No infinito do tempo e além do espaço, quando o divino pensamento se expandiu na atividade criadora, a sua irradiação matriz modeladora tornou-se a primeira emissão de amor de que se tem notícia. Desde então, tudo quanto pulsa e vibra é conseqüência dessa força motriz, que vivifica, tornando-se a gênese essencial de onde surgem as manifestações vitais.
O amor, por isso mesmo, é a vida em crescimento, que desdobra o germe latente atraído pelo magnetismo central do amor gerador.
Onde reinem os problemas, o amor enseja a necessidade do conhecimento, a fim de que se alcancem as soluções.
Quando os seres se atraem - vegetais, animais e humanos - para o milagre da forma, é o amor que os impele ao fenômeno da comunhão.
O amor é sutil e enternecedor, com capacidade tansformadora, mediante a qual se perpetuam as expressões da vida que, em jamais se extinguindo, alteram-se e renovam-se, desdobrando-se em formas diferentes até culminarem na perfeição.
A mão que dilacera a árvore com instrumentos cortantes ou fere a entranha da terra para lograr a bênção da utilidade ou do pão, representa o amor que trabalha e produz, repetindo a experiência inicial da ação de Deus.
A dor que despedaça a alegria e assinala fundamente os sentimentos, ainda é o amor, na sua condição de realizador incessante, trabalhando os metais ásperos do ser, a fim de que se arrebente a forma grosseira, libertando a essência ditosa, qual ocorre com a semente que despedaça o envoltório rude para que o carvalho esplenda e frondeje.
Na maternidade ou na paternidade, o amor gera e protege, sacrifica-se e doa-se até a exaustão, de forma que a felicidade se expresse na realização do filho.
O sorriso, que explode jovial, e a lágrima, que suavemente escorre da ânfora do coração, traduzem as valiosas manifestações do amor em júbilo ou em sofrimento, mas, sempre amor.
O ódio então representa a loucura momentânea do amor, que se recuperará sob as bênçãos do sofrimento e da transformação natural em direção à vida.
Somente o amor possui a força transformadora para a realização dos objetivos existenciais.
O animal que apóia a prole e a defende, também ama, na forma de instinto, enquanto o ser, possuidor de razão, exterioriza-o com lucidez e cuidado.
Na sombra densa como no pântano venenoso, onde reinam a ameaça e a peste, o amor, acendendo luz e drenando o charco, altera-lhes a paisagem, que se faz claridade, jardim ou pomar.
Tudo ama.
Deus é amor, afirmou o apóstolo João.
Quando a criatura humana amar com a profundidade real que a leva a esquecer-se de si mesma, o seu amor evitará a guerra e libertará as vidas, por ser a força do bem inteiramente livre e saudavelmente direcionada.
No amor se iniciam todas as coisas e seres, e no amor se purificarão todas as formas da criação.
***
O amor é de essência divina e todos nós, do primeiro ao último, temos, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado.
Por isso, amemos e felicitemo-nos, colocando na estrada do amor sinais de luz, a fim de que nunca mais haja sombra por onde o amor tenha transitado a derramar sua invencível claridade.
Nenhum comentário :
Postar um comentário