ANO 117 Nº 204 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 21 DE ABRIL DE 2012
Filantropia ou ''pilantropia''?
Sou uma pessoa ingênua. Choco-me com facilidade. Fiquei chocado, por exemplo, ao saber que Demóstenes Torres, paladino da ética, era pau mandado de um bicheiro chamado Carlinhos Cachoeira. Fiquei mais chocado ainda quando soube que as águas de Cachoeira banhavam o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e respingavam, de algum modo, em gente de vários partidos, até no ex-delegado Protógenes Queiroz (PC do B). Fiquei mais chocado ainda quando soube que a imprensa está afogada no escândalo, especialmente a belicosa e dona de todas as verdades éticas da revista Veja, que, nas redes sociais, está sendo chamada de #vejabandida. O meu choque atingiu o teto ao saber que a editora Abril, que publica o semanário Veja, está fazendo pressão para que seu dono, Roberto Civita, e o jornalista Policarpo Jr., flagrado em mais de 200 telefonemas com Cachoeira, não sejam convocados a depor na CPI a ser instalada no Congresso.
A CPI do Cachoeira pode trocar de nome para CPI da Veja. Fiquei mais chocado ainda ao ver as imagens do Presídio Central de Porto Alegre. Escabroso. Um mês ali vale por dez anos de cadeia. Deve ser por isso que as penas são baixas no Brasil e que existe o tal regime de progressão. Na ordem de prioridades do Brasil, educação, saúde e segurança estão atrás de esportes. Quem seria capaz de duvidar que é mais importante investir em estádios de futebol para a Copa do Mundo do que em hospitais, escolas e prisões? Os presos que se lixem. Quem mandou praticar crimes. Os doentes que morram. Quem mandou adoecer ou não se cuidar. Os alunos que corram atrás. Quem mandou depender de escola pública. O meu choque deu outro salto ao ler a entrevista do ministro do STF Joaquim Barbosa acusando seu colega Cezar Peluso, que acaba de sair da presidência da Corte Suprema, de ter manipulado julgamentos e resultados, sendo um deles para livrar a cara do atolado paraense Jader Barbalho. Uau!
Nada me chocou mais ultimamente, porém, do que uma declaração, na televisão, do médico Paulo Argollo Mendes. Segundo ele, alguns hospitais de Porto Alegre praticam "pilantropia" em vez de filantropia. Obrigados, para ter acesso aos abatimentos de impostos da Lei de Filantropia, a fazer atendimentos pelo SUS, cumpririam as metas em hospitais do interior do Estado, com equipamentos e remédios de qualidade inferior, com falta de médicos e de máquinas para exames mais sofisticados. Um truque, enfim, para driblar a lei. Em Porto Alegre, nas sedes, mármore, luxo, hotelaria cinco estrelas. Na periferia, o bastantão sem o bastante para atender a todos. Fiquei pasmo, de cara no chão, perdi o sono, amanheci com dor de cabeça, passei o dia revoltado, fulo.
A minha reação foi a de um idiota completo: instituições desse renome não fariam isso com a sagrada Lei da Filantropia. A voz de Argollo ressoava, contudo, nos meus ouvidos. Dizia que os hospitais citados não atendem pelo SUS em suas luxuosas bases da Capital. De repente, eu vi Peluso, Jader, Civita, Cachoeira, Protógenes, Perillo, Demóstenes, os mensaleiros, todos, ou quase, morando no Presídio Central de Porto Alegre.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
O governador do Distrito Federal é que deve ir para a cadeia!
ResponderExcluirEssa atitude de não gostar da imprensa é algo detestável numa democracia.
ResponderExcluirVolta pra cuba e alemanha!Seu radical!Esses Radicais livres...
ResponderExcluirAo coleguinha que singelamente fez os 3 comentários acima, querendo dar a impressão de que foram 3 pessoas diferentes:
ResponderExcluirO fato dos radicais livres já está quase superada. É apenas questão de uma boa avaliação médica. A medicina evoluiu bastante neste sentido, nada que uma boa dieta e alguns poucos medicamentos não consigam resolver. Parece que a absorção matinal de aveia, granola e mel também solucionam em definitivo o seu problema. De qualquer forma, consulte o seu médico. É possível que ele recomende alguns exercícios específicos pois os radicais livres são causa de diversos males na saúde mesmo.