Brizola acompanha Machado Lopes de volta ao QG do III Exército l Foto:Acervo Fotográfico do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Lorena Paim
A segunda-feira 28 de agosto de 1961 foi uma data decisiva para o movimento da Legalidade. Estava no ar a ameaça de bombardeio contra o Palácio Piratini por aviões da Força Aérea Brasileira. Num clima de extrema tensão, o governador Leonel Brizola fez um pronunciamento dramático pelo rádio, prometendo resistir até o fim. Pouco antes, naquela manhã, por volta das 10h, chegara ao Palácio, por telefone, um pedido de audiência ao comandante do III Exército, general José Machado Lopes.
Sem saber exatamente qual o propósito daquela reunião, Brizola se antecipou. Marcou o encontro para perto do meio-dia, ganhando tempo para falar, antes, pela Rádio da Legalidade. Quando o carro com o general e outros altos oficiais se aproximou, havia milhares de pessoas em frente à sede do Governo. O major Emílio Neme, subchefe da Casa Militar, recebeu a tarefa de recepcionar o visitante. Até então, a posição de Machado Lopes era desconhecida, embora fosse significativa a posição legalista assumida por dois importantes comandantes do interior do estado — Oromar Osório, da 1ª Divisão de Cavalaria de Santiago, e Peri Bevilácqua, da 3ª Divisão de Infantaria de Santa Maria.
Perto do meio-dia, Machado Lopes foi levado ao gabinete do governador, no primeiro andar da sede do Governo. A reunião foi breve. Segundo alguns registros, durou 15 minutos. Outros mais generosos, dizem que Brizola e o general falaram por 90 minutos. Estavam na sala, ainda, o general Silvio Santa Rosa, da 6ª DI, o comandante da Brigada Militar, Diomário Moojen, e o secretário do Interior e Justiça, Francisco Brochado da Rocha.
Na antessala, fortemente policiada pela Brigada Militar, o ambiente era de apreensão. Hélio Fontoura, taquígrafo e secretário particular do governador, lembra ter ouvido de Brochado da Rocha, antes da chegada dos militares ao local: “Se o general Machado Lopes não aderir, o Brizola quer prendê-lo aqui no Palácio. Se isso se concretizar, não sei o que pode acontecer”. A confusão era tanta que uma das portas da antessala teve de ser arrombada, porque ninguém encontrava a chave. O arcebispo Dom Vicente Scherer dirigiu-se à ala residencial para prestar solidariedade à primeira-dama Neusa Brizola.
Segundo algumas versões, Brizola, temendo a pior das hipóteses, tinha colocado um telefone sobre a mesa de reuniões, o qual iria oferecer ao general, para que ligasse dali e ordenasse o ataque ao Palácio. Teria determinado ainda que os fotógrafos só entrassem na sala se ele os chamasse. “Conforme for, eu me despeço dele e não quero fotografia”.
Anúncio da adesão levou o povo a cantar o Hino Nacional l Foto: Acervo Fotográfico do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Mas, Machado Lopes veio com boas notícias e logo comunicou:
– Governador, os generais do III Exército, reunidos, decidiram por maioria de votos que só aceitam solução para a crise dentro da Constituição, portanto, com a posse do vice-presidente.
A estas palavras, o governador levantou-se e apertou as mãos dele:
– General, eu não esperava outra decisão do III Exército.
A seguir, colocou a Brigada Militar e a Polícia Civil à disposição, para que a partir de então passassem a se reportar diretamente a Machado Lopes. O coronel Moojen pediu licença para dizer: “Quero que o senhor, general, designe as missões mais difíceis e mais duras para nós, da Brigada”.
Depois, o governador e o comandante foram até a sacada do Palácio Piratini e levantaram os braços diante do povo que se aglomerava em frente ao prédio. Na saída, Brizola desceu com o convidado, dizendo que o acompanharia até o QG do Exército. Saíram no veículo oficial, com a multidão atrás. Muitos cantavam o Hino Nacional, aplaudiam e saudavam: “viva o general da Legalidade”. Outros carros seguiram o trajeto. Num deles, como lembra o então deputado do PTB, Sereno Chaise, “éramos oito pessoas”.
Em depoimento posterior, Brizola disse: “A partir do momento em que o III Exército assumiu aquela definição, começou a pender a balança em favor da Constituição e da legalidade. Criou-se uma situação de resistência em todo o país”.
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