Conheci o Cléo, quando fui visitar seu Pai meu amigo e companheiro Ivo Bonoto, em Ernesto Alves há uns 15 anos atrás, estava junto com um companheiro do MST, que estava fazendo o reconhecimento da região. Quem tinha indicado o Ivo era a Tunica professora e militante do PT e movimentos sociais, eu tinha uns dois anos de Santiago e estávamos buscando elementos para análise de potencialidades de desenvolvimento regional e perceptivas partidárias. Fomos extremamente bem recebidos, estávamos numa moto velha de São Luiz, o companheiro Ivo nos recebeu com carinho e respeito, toda a família tinha a visão de construção de movimento e a necessidade de um partido que faça a reflexão na perspectiva dos trabalhadores, principalmente os da agricultura familiar e reforma agrária. Conheci o Cleo Bonoto que estava brincando ou com alguma tarefa no porão da casa de pedras, como Cleo dizia “Bonoto pobre”, e eu custei a entender isto na época. Um guri lindo, um italianinho de cabelos amarelos e olhos claros e um orgulho estampado de seus pais e história familiar, pela luta, solidariedade, associativismo, dos trabalhadores, pela natureza, pelo respeito e necessidade das diversidades da vida. Desde o primeiro momento mantive relações afetivas com a família, várias vezes compartilhei almoços e jantares, lembro de sua nona que me chamava de índio, dormi no porão de pedra, bebemos vinho e canha refletindo sobre o mundo e o atraso de Santiago e região, debatemos o cemitério de Ernesto Alves onde fez pesquisa sobre as famílias e localização de túmulos, um deles do avô da apresentadora Xuxa, um furungador e apaixonado pela História.
Seu pai guardava objetos antigos, históricos, e por esta época estávamos constituindo um grupo que queria chamar a atenção do descaso das autoridades sobre a estação férrea, seus prédios em decomposição e área linda da praça, Cleo foi um dos incentivadores do espaço do “Bric da Estação”, e todos os primeiros domingos do mês por mais ou menos um ano e meio, várias pessoas levavam seus trabalhos, guloseimas, animais, música para briquiar, confraternizar reivindicando a reforma e manutenção há uns 10 anos atrás, hoje realidade.
O Partido dos Trabalhadores e o afeto que tenho pelo seu pai nos aproximaram mesmo, e por estas coisas da vida, fomos ser colegas de aula do curso de história da URI onde juntos e com outros batalhadores fomos campear alunos para formar nossa turma, o curso fazia alguns anos que não formava turma, conseguimos 15 inscrições e o curso de História recomeçava em Santiago. Fomos parceiros com mais alguns maravilhosos colegas de dias históricos para nós, para a URI. Durante mais de quatro anos, estudando, aprendendo, debatendo e propondo projetos, como o Museu da URI, resgates históricos e memórias, como Moisés Viana com repercussão nacional. Muitas amizades, trabalhos, churrascos, festas e as tentativas de criar nosso diretório acadêmico e um DCE. Bom, no mínimo encaminhamos a primeira festa “julina”, ou de inverno que chamávamos quermesse, acredito que tenha até hoje, enchendo de tendinhas nos fundos da Universidade com frio, chuva e tudo. Incentivou-me e apoiou na minha medíocre campanha de vereador pelo PT , um cabo eleitoral incansável ficou a meu lado até o fim junto com a querida Lígia Rosso, outros amigos e familiares, lambendo as feridas de uma derrota prevista. Fomos a primeira turma a realizar a formatura no salão de atos da universidade, que não estava concluído, mas estava bom, e em nosso bom radicalismo, a empresa que organizou nossa cerimônia de formatura era de Santiago. Bem, daí para a frente ele foi professor, mestre, um orgulho para todos. Seguidamente me visitava no Sebo Santiago, buscando material e subsídios, sobre a reforma agrária e as conquistas sociais que a envolve, levou quase tudo o que tinha e fez um trabalho de pesquisa de fundamento.
Quando eu era presidente do PT de Santiago e trabalhava na Câmara de vereadores, eu, ele e alguns colegas de aula buscávamos aprender bem usar o computador, para fazer nossos trabalhos, debatendo muito socialismo , Marx. Quando nos apaixonamos por Gramsci, ai o pau comeu, o meu querido amigo, pediu a desfiliação do Partido dos Trabalhadores como um dos motivos de nossas divergências de interpretação da conjuntura direitista retrógrada de Santiago e posições burras do partido local. Pior foi ter que assinar seu encaminhamento de desfiliação por sua solicitação, e o regimento interno me obrigava a isto, era sua vontade, briguei muito, mas não consegui persuadi-lo a continuar filiado.
Nossas últimas empreitadas foram durante a campanha Dilma e Tarso, onde ele botou o time em campo. Por fim estávamos articulando juntos e alguns colegas de URI o seu retorno ao Partido dos Trabalhadores e a formação de um grupo na Universidade. Há um mês me ligou articulando e pedindo para divulgar a “Mostra Direito à Memória e à verdade – Ditadura Militar”. Recebi um convite para o Seminário como Coordenador do Partido dos Trabalhadores do Vale do Jaguari, um belo trabalho, um esclarecedor e histórico seminário. Foi a última vez que conversei com Cleo, estava satisfeito, empolgado, feliz, e é esta imagem que guardarei deste querido amigo e companheiro. Até mais, cabeça! Até mais!
Tide este foi teu post que mais me emocionou, uma linda homenagem para este jovem que foi tão cedo...
ResponderExcluirTide querido amigo...tu compartilhou da fase mais linda que convivi com o Cléo. Saudades eternas. Não sei nem o que dizer. Abraço!
ResponderExcluirDaí "negrão"! Como vai o meu amigo Duque de Lima?! Sua vida anda tão agitada que não consigo contato com você, mas quem sabe um dia poderemos nos encontrar. Gostei muito da sua homenagem ao nosso saudoso Cléo. Abraços do teu amigo e colega Ricardo.
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