Felipe Prestes
Lula não tem ficado de pijama após deixar a presidência. Hiperativo e bom de papo, o ex-presidente descansou apenas cerca de duas semanas e já passou por sete países nos últimos cem dias, sempre com agenda de encontros e palestras. Nos lugares por onde passa, Lula tem sido requisitado para encontrar personalidades como o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. Ele também tem procurado conversar com muitas pessoas de diferentes áreas do conhecimento e não por mero hobby: a concepção do Instituto Lula está a pleno vapor.
O ex-presidente ainda está um pouco afastado da política brasileira, embora tenha dado alguns pitacos – criticou, por exemplo, os sindicalistas na discussão sobre o reajuste do salário mínimo. Mas amigos revelam que Lula e Dilma se encontram pessoalmente de quinze em quinze dias. Possivelmente conversam sobre os rumos do país. As pessoas próximas evitam falar sobre o teor dos encontros, provavelmente para evitar as maledicências da oposição de que Dilma seria mera “laranja” de Lula no poder.
Afirmações como essa não têm base na realidade, a presidenta pode até se aconselhar com o ex-presidente, mas Lula tem demonstrado interesse em rodar pelo mundo e usar de sua credibilidade internacional para promover ideias. “Ele está mantendo uma distância do governo, o que eu acho muito bom. Acho que o tempo dele passou, era o que ele queria. O que não quer dizer que ele vá botar um chinelo e ficar em casa assistindo televisão”, diz o jornalista Ricardo Kotscho, grande amigo de Lula, de cujas campanhas políticas participou entre 1989 e 2002 e foi também secretário de Imprensa da presidência em 2003 e 2004.
Kotscho explica porque o amigo descansou apenas quinze dias. “Ele não consegue ficar parado”. O jornalista acredita que Lula voltará a participar da política nacional, quando se aproximarem as eleições municipais. “Acho que logo, logo ele vai se engajar na questão eleitoral. Ele não consegue ficar de fora disto”.
Personagem mundial
Depois de deixar a presidência, Lula passou pelo Fórum Social Mundial, no Senegal; esteve em um seminário organizado pela Al Jazeera, no Catar; foi a estrela maior de um fórum sobre educação no Paraguai e da festa de quarenta anos da Frente Ampla, no Uruguai. Em Portugal, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. Na última semana, o ex-presidente participou de um fórum organizado pela Microsoft, nos Estados Unidos e, de lá, rumou para o México, onde deu palestra para banqueiros. Nesta semana, Lula vai proferir palestra para investidores do grupo espanhol Telefônica, em Londres.
“Lula é ex-presidente do Brasil, o que já não é pouca coisa, e saiu da presidência com 88% de popularidade. Independentemente destes fatos, é uma pessoa de grande carisma e está muito ligado a certos temas, teses e ações que desenvolveu na área internacional. É muito natural que ele seja requisitado”, afirma o ex-chanceler Celso Amorim. Um dos ministros mais próximos de Lula, o diplomata afirma que é comum que ex-presidentes ocupem papel de destaque no cenário internacional.
Há casos, inclusive, segundo Amorim, em que um ex-presidente passa a ter mais relevância depois que deixa o cargo, como Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos. “Existem até pessoas que não foram tão bem sucedidas como presidente e mais bem sucedidas depois, como ex-presidente como Jimmy Carter. Nos ajudou na crise da Venezuela, acabou de ir a Cuba. Ele faz coisas que às vezes o presidente dos EUA não quer ou não pode fazer”.
Foi no Brasil que Lula estreou no início de março a carreira de palestrante. Estima-se que o ex-presidente recebeu R$ 200 mil. No Exterior, o cachê deve ser ainda mais alto. Ricardo Kotscho acredita que Lula deve gostar e seguir em frente como palestrante, porque falar é o que o amigo mais sabe e gosta de fazer. “Acho que ele está se encaminhando mesmo para este negócio de palestra. Isso é a mesma coisa que ele fazia antes. Desta vez estão pagando, então está ótimo”, brinca.
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